sábado, 7 de novembro de 2009

Postagem do Intervalo






Veja publicidade da Chanel com o poema Day Dream, de Frederico Barbosa. O poema foi utilizado sem conhecimento do autor.

A campanha publicitária mundial do perfume Coco Mademoiselle ,da Coco Chanel, traz trechos de um poema recitado inteiramente em português. Os curiosos irão descobrir que, embora não apresente autoria na campanha, trata-se de fragmento grande do poema "Day Dream" do poeta Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas e diretor executivo da Poiesis, organização social que administra o Museu da Língua Portuguesa e a Biblioteca de São Paulo.

O texto foi publicado originalmente no livro "Nada Feito Nada", de 1993, que foi agraciado com o Prêmio Jabuti.O autor desconhecia completamente o uso do poema, que é dedicado ao seu grande amigo, o músico e artista plástico Carlos Fernando. Segue o poema:

DAY DREAM
Esse castelo
o que há de antigo
nosso no ar
vai se construindo
em meio improvável
desatento.
Tantas referências
nossas lentes
fora desse mundo
do vago ralo
da rapidez indiferente.
Nesse nosso castelo
vão circulando, vivos,
tantos Dukes, Claudes, Luchinos
e vários James amigos
nossos companheiros de sempre.
Sonhos aprisionados
nessa torre
ilha
correm soltos
mar de marfim
por dentro.
Dedicar cada dia
entre tantos
inúteis momentos
a refinar
cada gesto palavra cor
ou sentimento.
Nadar no vazio alheio
movidos
por nosso sonho
claro e tácido
acordar comovido
da mente em movimento.
Nesse castelo, nossa praia
essa coragem nossa
sua presença acende.
Um mundo raro
um sonho em claro
doce recheio
sem resposta.
Sonhamos
vida
sempre acordados
um sonho contrário
que se arrasta em brilho
contra a corrente.

Frederico Barbosa in Nada Feito Nada, 1993

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

10/10 -Sexto e último encontro de 2009

Por Nedilson

Encerrou-se no último sábado, 10/10, o derradeiro módulo do projeto Escrevivendo na Casa das Rosas neste ano de 2009. Embora não tenha sido possível contar com a presença fundamental da nossa mediadora Karen Kipnis, o encontro foi, novamente, uma boa oportunidade para se conversar sobre a escrita, de maneira mais ampla, e sobre o fazer artístico e literário, mais especificamente. A partir da leitura de alguns versos de João Cabral de Mello Neto (“Tecendo a manhã” e “A mulher e a casa”), foram retomadas questões sobre o valor e importância da literatura num mundo marcado pelo signo da globalização, a estereotipização das linguagens artísticas a fim de contemplar interesses mercadológicos e as resistências elaboradas e postas em prática pelos artistas.

Outro assunto abordado no encontro nasceu do questionamento de um dos participantes sobre o significado mais amplo que estaria por trás da história de Bentinho e Capitu, no “Dom Casmurro”. O momento foi oportuno para inserir e discutir algumas questões sobre a constituição de alguns personagens e a função de cada um deles no panorama social da época, questões que relacionadas à trama podem abrir outras perspectivas de entendimento da obra.

No final, houve uma agradável confraternização, que se aproveitou do espírito de Dia das Crianças, com refrigerante, bolos e doces. Espero que nos próximos módulos do projeto possamos contar com a gratificante participação de todos esses que estiveram presentes nos encontros desses últimos meses, além de contar com a presença de novos participantes.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

OBRIGADA NEDILSON!!!

... por ter acolhido o Projeto Escrevivendo e acreditado nele. Tenha certeza de que será também sempre acolhido neste pedacinho da Paulista e onde quer que as oficinas aconteçam!

Karen

Copiei e colei do 'blogbruna'



Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009

CARTA A UMA AMIGA

Querida Karen,
hoje me dei conta de que faz pouco mais de um ano que recebi de presente, de você, o meu blog! E que desde então, já estão lá quase sessenta títulos. Quanto devo a você?
Muuuuuuito, quase tudo. E porquê não tudo?

Por que me aventurei em outras oficinas, obedeci outros raciocínios, quis apanhar com outras críticas, e outros críticos. É como se, inconscientemente, eu estivesse grudando em mi mesma, com cera virgem e à moda de Ícaro, asas de pássaros inauditos, diferentes, vindos de outros continentes.

Se soubesse cantar, eu diria que seria uma vocalista que larga a banda, de quem muito aprendeu , para lançar-se em carreira solo. Mas não é bem assim: ainda tenho um longo caminho a percorrer, antes de me sentir segura para conversar sozinha e sozinha aprovar minha assinatura.

Mas sei que você acompanha meus textos e estou certa de que, mesmo em momentos de crítica atroz, você saberá ouvir minha voz, como agora.
Portanto, obrigada.

Postado por Blog da Bruna às 13:07 2 comentários

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Comentário sobre a aula de 03/10- Sexto encontro

Por Nedilson

O encontro do projeto Escrevivendo no último sábado, 05/10, foi dedicado à leitura de dois poemas de Carlos Drummond de Andrade e de um conto de Guimarães Rosa. Embora a quantidade de textos tenha sido reduzida, ela foi suficiente para suscitar intervenções inteligentes e variadas dos participantes do encontro.

De fato, foi empolgante perceber o quanto um poema como o “No meio do caminho”, composto há mais de 90 anos, ainda causa espanto e instiga a sensibilidade do leitor mais atento, mesmo daquele que já possui conhecimento sobre o texto.

Com a leitura do poema “Áporo”, partiu-se da estaca zero no nível de entendimento dos versos para a consciência plena das possibilidades de significação deles num crescendo gradativo que premia o leitor com a imagem de uma metamorfose inusitada e maravilhosa.

No contato com a narrativa “Fita-verde no cabelo” adentramos no mundo das personagens infantis roseanas a partir da re-elaboração da fábula de Chapeuzinho Vermelho, numa sempre fértil experiência lingüística e criativa que nos proporciona o genial escritor de “Sagarana”.

O bate-papo sobre os três textos foi uma boa oportunidade para relacionar, de maneira prática, alguns dos temas que têm estado presente nas nossas discussões de sábado, como gênero e forma, além de ter ensejado algumas observações peculiares aos textos lidos, como as características de ritmo, sonoridade, contexto histórico e estético. Ao final, a sensação parece ter sido de alegria e gratidão por podermos contar, em nossa língua, com expressões poéticas de tão alto nível.

Se o verbo LER, etimologicamente, está ligado ao ato de colher, pode-se afirmar sem dúvidas que o nosso encontro de sábado primou pela fartura da colheita.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

26/10-Palestra sobre o Projeto Escrevivendo: uma experiência democrática de 'saber ser' e 'saber fazer junto' em espaços públicos culturais

Olá! Dia 26 de setembro teremos, no lugar de mais um encontro da oficina, uma palestra voltada a educadores, bibliotecários e público em geral. O evento está inserido na programação Semana da Primavera nos Museus.

Participações especiais: Gabriela Rodella e Nedilson César

Aproveito o espaço para postar o depoimento da incrível escrevivente Fabiana Turci!


DE COMO VIVER JUNTO
Fabiana Turci


Há uma formulação em Borges de que o livro, se não for aberto, não passa de um bloco de couro, costurado em páginas insignificantes. Ele diz que, no entanto, acontece uma coisa mágica quando o abrimos: o livro se modifica a cada instante. Em cada leitura, resignificamos, não apenas as palavras, mas o mundo a nossa volta e o mundo dentro de nós. Ler é uma atividade permeada de desejos. Do desejo de escrita ao desejo do encontro, a leitura nos coloca em contato com o vivo do mundo e, diante deste convite, vem, inevitável: a falta de espaço, de diálogo, o mundo comprimido, fragmentado, administrado, com o qual as palavras se debatem e nos desafiam – a constituir um espaço respirável, a ocupar a porção que nos cabe e incutir, no fluxo da vida, o do nosso próprio sentir.

Este é um relato pessoal. De como passar da solidão do verso para o aprendizado do viver junto. Como qualquer relato, este carrega as minúcias e desvios próprios da caminhada subjetiva. Mas isso não o torna menos válido, nem mais concreto. Talvez a verdade da palavra do relato seja a de que ele poderia servir a qualquer um e a ninguém, ao mesmo tempo em que ocupa um lugar. E é desde este lugar – muito menos testemunho, testemunha do que presentificação e ocupação de um Espaço, já meu – que gostaria de dirigir esta fala.

Conheci alguns caminhos de e para as letras. Um, mais óbvio, dentro de minha própria casa – que se não cumpre o ideal das casas burguesas com suas vastas bibliotecas, tem sempre silêncio e papel. Quando se vive assim, fazendo amor com as palavras, natural é que se carregue, ao cruzar a porta, essa paixão. Assim é que, vezenquando, o Outro nos aparece e nos cruza, com seu amor e com suas palavras – o primeiro e sempre caro encontro. Fui procurar, também, fazer da paixão trabalho, o que se deu no meu ingresso nos cursos de Letras e Filosofia. Não seria exatamente justo dizer que, nesses três caminhos, não encontrei o que procurava. Cada espaço nos dá e nos exige o que lhe é próprio, mas as palavras ocupam tudo, sem distinções. Se a casa, como lugar da intimidade, permite a liberdade da escolha – de abrir e fechar os livros em função somente da quantidade de prazer, de estender o tempo em direção ao lápis e fazer da poesia relógio – a Academia, como instituição, nos obriga a aceitar as escolhas de outrens e de fazer dessas escolhas ferramenta, instrumento. A casa, por outro lado, nos impõe a solidão de paredes brancas, muitas vezes insuportáveis, onde falta exatamente o Outro, com os desafios, os universos, os olhos perguntantes... Seria justo dizer que cheguei até a Casa das Rosas não por uma ausência de fundamento, mas por outro tipo de falta, fundamental: de escuta e de conversa.

Digo, também com justiça, que resignifiquei as manhãs de sábado, a Avenida Paulista, tão austera, e minhas próprias palavras. Encontrei um espaço pautado no afeto e na escuta, onde as propostas – estimulantes, inovadoras, desafiadoras – geravam textos que transformavam não apenas o nosso pequeno espaço, mas eram catalisadores de mudanças profundas, íntimas, indizíveis. Se o Escrevivendo cumpre o necessário propósito de instrumentalizar e embasar a leitura e a escrita, tornando seus “alunos” mais críticos e mais responsáveis por sua atuação no mundo, acredito que cumpra algo que não se dá como uma finalidade expressa, mas que acaba por ser sua conseqüência necessária: o escrevivendo devolve, de muitas formas, a inteirez da gente.

Como relato, digo que encontrei, nesse espaço como em nenhum outro, ouvidos atentos e exigentes, muita generosidade e uma quantidade infinda de centelhas. Mas sou obrigada a relatar, também, aquilo que vi: um espaço que personifica meu ideal de democracia, espaço heterogêneo cujo potencial de transformação, em muitos sentidos, representa a essência mesma daquilo que gostaríamos de ter como educação. Algo que ultrapassa as fronteiras de conteúdos, de ideologias, e nos torna, profundamente, quem a gente é.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

19/09 - Quinto encontro

Hoje pude ler e comentar(ao mesmo tempo), observando coesão, coerência, clareza, e gramática, algumas produções como exemplo de olhar crítico a ser treinado para comentários sobre textos de colegas no decorrer da oficina.

Ainda que concordemos que a escrita responda a uma função social e que seja fruto de motivação(caso contrário ela passa a ser apenas demonstração de conhecimentos técnicos e gramaticais), ficou claro que, justamente quando estamos motivados, acabamos, muitas vezes, escrevendo da forma que pensamos ou falamos! Neste caso, devemos redobrar a atenção e os cuidados na releitura e na reescrita de nossos textos.

Assim, passamos às trocas de produções (em duplas) " Que leitor sou eu". Adoro este burburinho!

Segundo Lucília Garcez, em A Escrita e o Outro,

" Na atividade de releitura, os participantes do evento, em graus e perspectivas diferentes, exercem um esforço em busca da compreensão responsiva ativa de que fala Bakhtin*. Para isto, alternam suas perspectivas de leitura. O comentarista tenta colocar-se no lugar do produtor para compreender suas intenções e propósitos, e o produtor do texto procura relê-lo, colocando-se numa outra posição, a de interlocutor de seu próprio discurso...É nesse exercício que ambos aprofundam seu conhecimento sobre o funcionamento do texto e sobre os aspectos que devem levar em consideração no processo enunciativo ou interpretativo"

* consultar marcador 'bibliografia'

Proposta II- reunião de alguns textos "Que leitor sou eu"

Leitora que sou:


O meu começo foi meio difícil , dependo dos outros que não tinham tempo para contar as historias para mim .

Sempre tive adoração por bichos e viagens, meu pai , sertanista na época costumava inventar algumas lendas e então, quando estava em casa , me contava .

Mais que depressa, quis virar mocinha termo muito usado na época , sapatos com saltos, viajar pela mundo , ficar em hotéis , beijar namorado de baixo de chuva , ser linda e se possível de olhos azuis, acreditava que tudo sempre acabava bem nas fotos em branco e preto.

Assistia muitos filmes a tarde e depois lia livros desses filmes ,vivia muitas vidas incríveis .

Eu achava que um dia chegaria minha vez de verdade algo aconteceria e me tornaria uma pessoa parecida com algum personagem. Mas como esse tempo não chegava, mudei de tom .

Passei a adorar as mortes horríveis e historias de detetives , de vingança e sexo .

Agora não queria mais nenhum sapato de salto alto, queria era passear pelo espaço, outros planetas , acreditei em bruxas, fantasmas e vampiros e em pessoas más .

De repente tudo perdeu o pé. Viva a literatura fantástica, lisérgica, livre de todo tempo e forma. Essa viagem não durou muito para mim , livros e momentos confusos me traziam angustia, sentimento que já não me faltava .

Causas ….resolvo procurá-las .

Falando muito , ouvindo pouco ,volto para a infância , para meus sonhos e pesadelos .

Psicanalise , psicologia, tentei, mas cansei também de ter que haver razão para tudo.

Hoje não acredito nisso.

Sublimar na poesia, uma possível saída. Sou apresentada as minhas poetas prediletas nada virgens e suicidas e com elas o amor realmente impossível .

Mudo de assunto de novo na minha vida , tenho pressa, leio para trabalhar , tenho que ler sempre com causa , para mim, exercício de secura da imaginação .

E foi assim por um tempo , e ,paro de ler tudo , cansei , me sinto solitária, sem acreditar na possibilidade de criar.

Hoje , encontro em intervalos , espaço para mim , quero acreditar que posso ir para onde quiser, não é fácil, mas vou tentar .




“ Moro no ventre da noite ;

sou a jamais nascida .

E a cada instante aguardo a vida .”

Cecilia Meireles


Laura


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Homem-Aranha, n°7




Que Leitor sou eu? Ou As Aventuras de Dom Henrique no Reino da Leitura e os Costumes que ele Trouxe de Lá.

Vivendo e sentindo fortes emoções. Emoções que são, que vem e vão e me deixam melhor, inteiro, purificado.

Quando eu era criança, percebia que nas noites em que não brilhava a lua, minha mãe aproveitava para apagar toda a luz elétrica da casa, deixando acesas apenas algumas velas. Isso era bem divertido.

Meus irmãos e eu sentávamos no chão à sua volta, em círculo.
Assim começava a nossa “hora do conto”.

Curiosamente, minha mãe não lia, narrava.
Não falava simplesmente, ela soletrava as palavras numa interpretação ritualística que fazia tremer todo o corpo da gente.

Nessa hora singular eu reparava que não mais reparava o mundo ao meu redor.
Éramos apenas nós, nossas sombras refletidas na parede e a imaginação a todo galope, cavalgando de rédeas soltas.

Tempos depois, dentro de uma banca de jornal, eu conheci o Homem-Aranha e nossa amizade se estenderia por muitos e muitos anos.

Eu tinha sete anos quando isso aconteceu. E dos sete anos a gente nunca esquece.
E sete também era o número da primeira revista do Homem-Aranha que eu li.

Abri os olhos para o colorido Universo dos Quadrinhos, até que um dia ou noite, por obra e graça da divina Curiosidade, escorreguei de corpo inteiro dentro do mágico caldeirão de sopa de letrinhas, imagens, palavras e palavrões.

Com as novas perspectivas dos horizontes alargados, escancararam-se todas as portas e comportas dos quatro elementos e eis que surge um ledor.

A adolescência chegou com uma incontrolável vontade arqueológica de encontrar uma botija cheia de ouro que alguma baronesa porventura tivesse enterrado no árido solo dos Grandes Sertões Veredas, lá pelas bandas do Ceará. Será?

Então comecei a procurar a Arca Perdida, o Cálice Sagrado, as Minas do Rei Salomão. Mas ficaria satisfeito se achasse pelo menos a xícara de porcelana na qual Lampião bebia seu café amargo.

Cava, cava, cava, cava.

Nessa corrida febril pelo vil metal, minha recompensa maior foi um monte de calo nas mãos quando esburacava o quintal de casa. Tive sorte de não experimentar a força braçal de um tabefe do meu pai.

Mas foi “cavando” no chão da biblioteca que ganhei passagem para embarcar n’As Viagens de Gulliver e de quebra, ainda encontrei o mapa da Ilha do Tesouro.

Fiquei tão rico que pude dá A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, dentro de um balão.
Nesse mesmo dia eu vi um feliz Santos Dumont descer à porta de sua casa no famoso dirigível, A Balladeuse.

Abrindo a minha Bíblia Ilustrada, peregrinei até a Terra Santa onde Sansão venceu um exército de filisteus, mas foi incapaz de resistir aos encantos de Dalila.

Conheci Os Três Mosqueteiros e nossa missão era descobrir a identidade do Homem da Máscara de Ferro.

Outras aventuras e personagens fascinantes certamente esperavam por mim, logo ali, bastando apenas virar a página.

Quando eu virei a página para saber mais sobre A Terra, o Homem e a Guerra no cotidiano dos agricultores do Brasil, fiquei indignado com O Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Em homenagem a esse Guarani de cara pálida rezei A Missa do Galo.

Desisti da Agronomia e continuei minha viagem pela História sem Fim.

Destemido, percorri 20 Mil Léguas Submarinas, cruzei o Canal da Mancha na Saga dos Plantagenetas, e no retorno, de passagem pelo antigo reino da Gália, parei para descansar e assistir, de camarote, o trágico fim d’Os Reis Malditos.

Naqueles dias, eu me apaixonei por uma moça, uma pobre camponesa de Domremy, um pequeno vilarejo que ficava ali mesmo no reino de França.

Mas a moça foi acusada de bruxaria e morreu queimada na fogueira da Inquisição.

Eu ainda não tinha 24 horas na vida de uma mulher e já estava pensando seriamente Sobre a brevidade da vida e A felicidade conjugal seguido de O Diabo.

E minha orelha ficou pegando fogo. Um aviso. Eu deveria fugir para As Catacumbas de Roma ou para o Egito, como fez a Sagrada Família.

Eu fugi do Fantasma da Ópera, corri o mundo como um cão sem dono, um Vagabundo sem Dama, um trovador sem versos.

Pelos portos e feiras das cidades, comecei a falar nas maravilhas do novo mundo e na Conquista do Paraíso através dos Sete Mares Nunca Dantes Navegados.
Ir além, além, mais além, mais.
Navegar é preciso!

Fui tido como sem juízo. E por diversas vezes tentaram me enviar para o Inferno de Dante.

E nesse Elogio da Loucura, freqüentei a Escola de Sagres e virei um observador de estrelas, seguindo carreira como um Mercador de Veneza nas caravanas de Marco Pólo.

Estive na trama de muitos romances históricos e me divertia bastante quando surgiram as novas Cruzadas, mas o contagiante fervor das teses luteranas e as quixotescas batalhas contra os moinhos de vento eram mais atraentes.

De repente, alguém acendeu a vela do Iluminismo e eu vi a opulência antropocêntrica dos Papas renascentistas, embarquei nas Grandes Navegações, vislumbrei o nascer do Império Brasileiro e o morrer da Dinastia Tudor. Nada.

Nada de depressão, mórbida tristeza ou apego a sentimentos doentios.
O que eu quero mesmo são as leituras cheias de nutrientes para o espírito.
Aquelas leituras que balançam e embaçam os olhos sempre que delas nos lembramos.

De uns tempos para cá, recito a seguinte Oração do Livramento:

Santo Livro da Vida,
Livrai-me dos livros que não livram a vida.
Livrai-me do perigo de não ser
Literalmente livre.

Essa é Uma Breve História do Tempo, onde todos os meus livros são importantes e merecedores de uma ou mais leituras, dependendo do meu estado de espírito.

Tenho lido mais que ontem, talvez os mesmos temas, mas não os mesmos livros.

Assinei um termo de compromisso com a liberdade de escolha e o prazer da leitura de forma espontânea como uma saudável alternativa para grandes descobertas.

Não me arrependo das leituras que ainda não li.

Levo a vida numa boa, tranqüila mente, pois sei que os livros certos virão no tempo certo, beijar a boca da menina dos meus olhos.

Paulo Henrique Alves Lima
XII – IX - MMIX
São Paulo - Brasil

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

12/09 - Quarto Encontro - Por Nedilson

O encontro do ESCREVIVENDO do último sábado, 12/09, foi muito interessante apesar de não ter seguido a atividade pré-estabelecida no encontro anterior, a atividade de troca dos textos e comentários dos participantes (“Que leitor sou eu?”).

Em vez disso, foi feita a leitura de uma crônica de Arthur Nestrovski (“Nove anos para um verso”) narrando a origem da música João Valentão e referenciando, de maneira ampla, a obra de Dorival Caymmi, mestre do cancioneiro nacional.

A partir do texto de Nestrovski foi possível conversar um pouco sobre vários assuntos pertinentes aos nossos encontros de sábado. Alguns desses assuntos permeiam nossas conversas desde o primeiro bate-papo, como o uso normativo e/ou opcional da vírgula ou algumas características tipológicas dos textos.

Outros assuntos, como a importância do tópico frasal na estrutura do texto e a função de elementos coesivos nessa estrutura textual, puderam ser objetivamente apontados no elogio do crítico ao mestre baiano, tornando mais fácil, ou menos difícil, a apreensão do que é dito teoricamente.

A troca dos textos que não ocorreu no último sábado ficou, então, adiada para o próximo. Assim, todos aqueles que não haviam feito ou trazido seu texto, por favor, não faltem.

Algumas cartas de escreviventes: proposta I

São Paulo, 29 de agosto de 2009


Aos que pedem que eu leia em voz alta,

Protesto. Ou nem tanto: advirto. Inicio esse texto pedindo-lhes critérios menos rigorosos de apreciação. Lembrem-se de que escrevi já sabendo que precisaria ler em voz alta. As palavras tiveram de ser outras, pois passaram pelo crivo de sua audição. Confirmo: há textos para serem lidos apenas em voz baixa.

Ao pedirem que eu leia em voz alta, exigem que eu drible minhas deficiências de dicção e interpretação. Enquanto minha caneta tenta se empolgar, a consciência de que eu não conseguiria ler longos trechos sem vírgula me serve de freio. Na contramão, o receio de usar vírgulas em demasia, de modo a truncar o texto, também me é preocupante.

Entendem por que a carta lhes é endereçada, ainda que eu não possa delimitar quantos vocês são? Ela poderia ser destinada a políticos, às companhias telefônicas, ao Papai Noel, ou a Deus, mas tudo me foi menor que a expectativa de sentir minhas frases amplificadas.

Vêem como é a vocês que eu deveria dirigir minhas primeiras reclamações? Sim, pois tenho de calcular o dizer, e quando as palavras são mal ditas, soam como meias palavras. Mal ditas me vale até para um exemplo. Quem ouve pode ter entendido malditas, tudo junto, e não mal ditas, separado, no sentido de “dizer de maneira incompetente”. É difícil.

Vocês, que nunca se imaginaram culpados, e que hão de reagir às minhas inoportunas ponderações, tratem de se resignar. Peço que sejam mais compreensivos, e que relevem a ineficácia de meu discurso. Se a escrita nasceu da fala, sou órfão de mãe.

Quando voltarem, tenazes que são, a sugerir que eu leia em voz alta, recordem dessa carta, mas subvertam o tom rabugento que ela tem, e preservem a certeza de que me fizeram muito bem.

Noubar Sarkissian Junior

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São Paulo, 29 de agosto de 2009.


Ilmo Sr. Diretor da Casa das Rosas
Saudações

Meu nome é Luiz Monteiro e , nos últimos meses, passei a frequentar os eventos, cursos e oficinas da Casa das Rosas.
Estou muito satisfeito com a programação das atividades, atendimento, dos funcionários, e a qualidade das aulas e oficinas e ministradas pelos professores. Recomendo e dou nota dez, principalmente por se tratar de um serviços públicos que , em geral , não funcionam de modo satisfatório. Aqui as coisas são diferentes: estamos em uma ilha de exceção , um oásis nesta nossa realidade caótica.
Entretanto, nem tudo são rosas. Há espinhos. Então, tomo a liberdade de apontar um ponto que poderia ser melhorado: as carteiras das salas de aulas localizadas no primeiro andar.
Dizem os especialistas em aprendizagem que o bom estudo começa com uma boa cadeira. Entretanto, as carteiras daqui são apropriadas para jovens magros, não para barrigudinhos como eu, que tem que ficar com o umbigo encostado no apoio onde se escreve, por duas ou três horas, o que não é nada confortável.
Uma solução prática e de baixo custo poderia ser serrar o braço das carteiras universitárias , transformando as carteiras em cadeiras simples. Isto poderia ser feiro com apenas três ou quatro carteiras de cada sala. Deste modo, os gordinhos poderiam optar: sentar em carteiras ou cadeiras.
Antecipadamente agradeço pelo exame da oportunidade da aplicação da sugestão.

Luiz Monteiro

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São Paulo, 29 de agosto de 2009.

Prezada Antonia,

A sua alegria traz mais vida a esta casa.

Não vou me estender numa verdadeira dissertação, sobre suas qualidades.

Mas sua voz ecoa em nossos ouvidos como uma suave melodia jamais cantada pelos pássaros.

Todas as noites as crianças desejam ouvir mais uma daquelas histórias que só você sabe contar.

Estamos aguardando a sua volta com grande expectativa, pois assim como os seres necessitam e almejam os raios solares, a sua presença é como uma luz em todos os cantos e recantos de nossas vidas.

Você é tudo de bom, e tudo de boa.

Sua amiga,
Carolina. ( Henrique Alves)

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São Paulo, 29 de agosto de 2009.

Senhores Francisco da Silva e Joaquim de Souza:

Quero alertar aos senhores para a deficiência técnica que o microondas “DEF”, de fabricação de vocês, tem apresentado sérios problemas.

Houve, recentemente, em minha loja, inclusive, seis casos de devolução, que achamos por bem aceitar.

Alguns clientes reclamaram da fragilidade e ineficiência do aparelho acima mencionado.

Eles me trouxeram os aparelhos defeituosos e estou repassando-os para os senhores.

Espero receber outros novos para que eu possa ressarcir os meus clientes.

Sugiro aos senhores que façam uma reavaliação na fabricação desse modelo de microondas em futuras produções.

Certo de estarmos contribuindo para o êxito de seu novo e promissor empreendimento e também para a continuidade de nossos negócios,

Atenciosamente,

Luiz Ricardo
Gerente Comercial das Lojas do Povão. (Henrique Alves)

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Reclamação




Cara Karen kipnis;

Venho através desta carta reclamar sobre o tema dado em sua aula .

Reclamação! Reclamação !

Não sei fazer . Só reclamando então.

Culpa sua ? Não, rápido te aviso , não é sua, é minha .

Depois de muito reclamar quase lamentar decidi e vou te confessar ; não sei reclamar!

Não sei reclamar em papel endereçado com espaço em branco e todas as linhas para que palavras escritas possam seguir seu rumo e alvo certo .

Mais fácil reclamar em palavras soltas, palavras que ficam guardadas no teto da minha sala como balões e murcham, morrem com o tempo .

Reclamo sim, só dentro de mim e quando isso acontece até sinto uma falta de ar, raiva das mais vermelhas !

Com os olhos fixos na minha queixa me concentro e pondero ;

Será que não estou errada em me achar certa ?

Então algo turvo e cinza me rodeia , assombra, chamo isso de medo.

Medo da fúria que posso sentir se for certeira , do ódio que posso causar ao meu destinatário na confusão das minhas idéias .

Desisto .

Covarde , confusa , nem um pouco Medusa .

Mas perceba, que interessante !!

Este tema veio a calhar e agora esse segredo posso contar .

Obrigada Karen .


Laura De Guglielmo .

sábado, 5 de setembro de 2009

05/09- TERCEIRO ENCONTRO

Caros escreviventes que não puderam estar no último encontro: escrevo um pouco sobre o que fizemos na oficina, informando que a emoção e o prazer de compartilharmos a leitura de alguns capítulos do livro de Daniel Pennac -Como um Romance- e leituras dos textos produzidos em casa 'Que leitor sou eu?" serão inanarráveis.

Entre a leitura de cada capítulo, trocamos experiêcias como leitores e investigamos,mais a fundo, a diferença entre o que nos permitimos ser e que leitores as escolas estão tentando formar e como.

O que lemos e como lemos? Esta continua sendo a tarefa para o próximo encontro.
Até lá!
ps: pretendemos criar blogues pessoais, para quem ainda não tem um, sábado que vem.

29/08 -SEGUNDO ENCONTRO

Este dia foi dedicado a leituras de cartas de reclamação e de elogios. Como não havia, como de costume, sugerido se se tratava de carta formal ou não, pudemos ouvir a leitura dos mais variados tipos de entendimento da proposta: reclamação para D's, carta escritas por motivaçãoe reais (escrever é um ato vinculado a práticas sociais), reclamação a mim dirigida por pedir algo tão difícil, elogio à Casa das Rosas e crítica construtiva, etc.

Neste exercício, além de já observar algumas características dos escreviventes e de sua escrita, discutimos como havia sido o processo da escrita destas cartas: um escreve tudo de uma vez e se afasta por longo tempo de seu texto; outro, escreve no ônibus, a caminho da oficina, no dia da entrega; e ainda um outro ,quando volta para casa , já vai pensando no caminho e despeja.

Por meio destes exemplos, comentamos os passos da escrita e como cada fase: planejamento, esboço, revisão e edição, obedece critérios de cada indivíduo.

Ao trocarem os textos e ouvirem comentários dos colegas, ficou clara a importância da avaliação de um outro leitor para perceberem se etavam sendo claros e se sua argumentação foi eficiente.

Após o intervalo, depois de falarmos mais um pouco sobre leitura por prazer e sobre o livro de Daniel Pennac ,Como um Romance,sugeri que escrevessem em casa o texto " Que leitor sou eu?"

Assim que os autores tiverem reescrito suas cartas e este último texto, este material será postado para apreciação de todos: aguardem!

obs: DIREITOS IMPRESCRITÍVEIS DO LEITOR segundo Daniel Pennac


1. O direito de não ler.
2. O direito de pular páginas.
3. O direito de não terminar um livro.
4. O direito de reler.
5. O direito de ler qualquer coisa.
6. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).
7. O direito de ler em qualquer lugar.
8. O direito de ler uma frase aqui e outra ali.
9. O direito de ler em voz alta.
10. O direito de calar.

sábado, 29 de agosto de 2009

Primeiro Encontro 22/08

Depois de muito tempo, mais ou menos quatro anos, este foi, realmente, um primeiro encontro. Participantes do Projeto Escrevivendo que estiveram conosco desde 2006, 2007, 2008...ou seja ,que participaram muitos anos das oficinas na Casa das Rosas, a 'velha guarda', tomaram rumos distintos neste semestre.

Isto com exceção de Guilhermina que,ao entrar - e não reconhecendo escrevivente algum - pergunta: "entrei em sala errada??"

Iniciamos com as apresentações e,em seguida,com a discussão sobre alguns dos mitos relacionados ao ato da escrita: escrever é um dom para poucos eleitos,escrever é um ato espontâneo, desvinculado de práticas sociais, escrever não é importante no mundo contemporâneo, escrever é um ato desvinculado do ato da leitura.

No novo grupo há recifenses,cearense,paraibano e mineiro entre paulistanos e paulistas: êê São Paulo! Depois de refletirmos sobre o ato da leitura e da escrita,pausa para um cheiroso café no Panaroma (anexo).

A prática do exercício lúdico 'Durindana' foi seguida de leituras e muitas risadas. Para casa, sugeri que escrevam e tragam ,para o segundo encontro, carta de reclamação (alguém confessou que já escrevera uma para ex-namorado)ou elogios. Afinal, a palavra fere, mata, mas também pode criar: "Num princípio..."

sábado, 22 de agosto de 2009

NOVO MÓDULO AGO/SET/OUT 2009-ESCREVIVENDO BÁSICO I

Bem-vindos! Para abrir esta oficina , postei comentário da escrevivente Ellen sobre outra oficina de escrita que está frequentando no Museu Lasar Segall.



"Vou te contando da oficina do Gilson sim, pode deixar. A expectativa é grande. Engraçado que no final de toda a conversa introdutória ele avisa: 'olha, para mudar a forma da pessoa escrever, o que se está mudando é sua linguagem. E para mudar a linguagem, tem que mudar a cabeça... preparem-se para mudar a cabeça e para sentir uma grande tentação a abandonar o curso. Resistam a ela e mudem suas cabeças!'"

sábado, 1 de agosto de 2009

Palestra na UNESP - Campus Maríla

No dia 23 de julho, a convite da Profª. Dra. Plácida Leopoldina
Ventura Amorim da Costa Santos e da Profª. Dra. Maria José Vicentini Jorente, da UNESP de Marília, proferí palestra para alunos de Biblioteconomia sobre o Projeto Escrevivendo: oficinas de escrita e leitura para o cotidiano com interface para blogagem. Este foi mais um passo de nossa parceria, iniciada com a criação do primeiro blogue do projeto - www.escrevivente.blogspot.com .

No contato com os estudantes, fica cada vez mais claro que educação, cultura, mediação e aprendizagens constantes sobre novas tecnologias de informação, por meio de formação continuada, andarão, daqui pra frente, juntas. Estes campos do saber ainda clamam para si alguma pureza ou exclusividade, mas o limite entre suas fronteiras estão se expandindo, criando terreno para um ambiente democrático no qual sujeitos que se transformam passam a ser o foco das atenções. Aqui menos se transmite conteúdos e mais se propicia experiências.

Atualmente, em São Paulo, o Sistema de Bibliotecas (55 unidades de informação),incluindo as temáticas, proporciona incrível programação gratuita com filmes, teatro, shows, poesia, música e outras artes, além de cursos e oficinas,como as do Projeto Escrevivendo.

Ações culturais em bibliotecas, museus e centros culturais , bem planejadas e mediadas por profissionais competentes e comprometidos com os cidadãos e com a sociedade que queremos ser, hoje e daqui pra frente, dialogando com o sistema formal de ensino, certamente propiciarão a indivíduos vivências norteadoras de buscas, despertando novos olhares e um 'saber fazer junto' em espaços públicos.

E isto estamos fazendo há quatro anos no Projeto Escrevivendo/Casa das Rosas.

Para pensar nas férias

" ...é na hora de escrever que muitas vezes
fico consciente das coisas,
das quais, sendo inconsciente,
eu antes não sabia que sabia..."

CLARICE LISPECTOR

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ANTROPOFAGIA

Por Fabiana Turci


- Que somos seres miméticos, ele me disse, tocando nos meus cabelos, como quem abandonasse. Pensei nas mãos, enquanto o cabelo ia se transformando em todos os cabelos de todas as mulheres que construíram aquele toque. Retruquei, ríspida, desesperada, que, chega um tempo, em que se é. “Se é o que?”, ele perguntou. Não o que: simplesmente, se é. O que se seguiu foi um caminho em que ele me dizia não haver autenticidade em nós, que somos constituídos por fluxos discursivos de tantos outrens. Ao que eu dizia não ser uma questão de individuação, de afirmar uma posição central de sujeito que não mais se sustenta: mas que era como a possibilidade do olhar, que escolhe, colhe e se apropria.
- Quando tivermos um filho, e ele, de repente, balbuciar o teu nome, você vai me dar razão.
O filho, pelo simples desejo, ia crescendo dentro de mim. Eu disse que era muito difícil conversar, agora, que a vida inteira tinha sido de versos e monólogos. E que, então, eu tinha vontade de citar Camille, Clarice, Ana, Hilda, Anais, e ele ia me acusar de inautêntica, e ia me colocar culpa de vampiro.
Ficamos no silêncio, sendo. Depois de tempo enorme, mastigado com chiclets, eu disse que aquilo não era imitação de um instante. Entre a sombra e o braço, ele concordou.

II.
Escrevi duas linhas num guardanapo amassado, depois de nove meses gestando as palavras. Reli, limpei os cantos da boca: vontade nenhuma de abdicar do verso. Fiz sopa de legumes com as letras dos poetas – só os mais íntimos - e ofereci a ele, como argumento. Perguntei, com falsa inocência, se eu engolisse o mundo, ele seria meu?

III.
Ele me mostrou um poema que escreveu em 1991, retirado do silêncio das pedras. Eu disse que gostava daquilo, que me lembrava manoelzinho, a quem tanto amo. Mas, num ato de súbita coragem, perguntei do que era feita a matéria das palavras. “Da ausência”, ele respondeu, tímido, seguro. É claro, é mais presente em nós o que nos falta. Mas, diga-me: ausência de que? Não de que: ausência. Não quis perguntar quem era a mulher para quem ele havia dedicado o poema antigo. Como se me lesse, ele disse, para se constar, que a tal Helena era a diretora da peça do teatro que serviu de centelha. Eu disse que Helena, a outra, tinha sido a primeira mulher que, aos cinco anos, eu afirmei ter vontade de ser.
- Mas agora você está contente em ser você?
Quando aprendi a ler, mastiguei Helena inteira. E agora, sou.

IV.
- Quando propuseram, em 1998, fazer uma Bienal sobre Antropofagia, acho que o Paulo pensou na incorporação dos valores do outro para construir os seus próprios. Mas sabe o que aconteceu? As pessoas, digo, os artistas, deram um cunho regionalista, pensando numa relação com canibalismo, e associando-o aos mitos e a formas sociais locais.
- Mas ninguém falou nada?
- Falar, acho que falou... Mas, e daí?
- E daí que alguém, algum crítico, alguém poderia ter falado de Montaigne.
- Poder, poderia. Mas não ia adiantar de nada. Mire veja: quando a coisa é tematizada, perde-se a perspectiva.
- ???
- Assim: na última Bienal, por exemplo, uma mulher pegou a obra do Camus e desconstruiu inteira, 32 mil palavras, e fez quadrinhos em ordem alfabética.
- Qual livro?
- Não importa... O Estrangeiro. Mas ninguém falou em antropofagia, e ficou todomundo sem entender nada.
- Falaram do existencialismo?
- Sim, sim: do existencialismo. Ninguém entendeu nada.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sétimo encontro



Em 20/06, vivenciamos um típico dia de nossa oficina: palestra e debate sobre intertextualidade com a convidada - professora Denyse Cantuária-; leitura e comentários sobre textos de escreviventes e até um bolinho de aniversário que o Benê trouxe no intervalo para a pré-comemoração de seu aniverssário.

Em sua palestra, Denyse optou por falar de Amor. Por meio deste tema universal, aproximou os participantes e suas poesias preferidas de grandes obras e de gandes poetas, demonstrando o quanto estamos empregnados de literatura, cotidianamente, em nosso falar.

Partindo do Cântico dos Cânticos ( quando já não se procura o ponto original e as 'fontes' deixaram de ser fixas para serem móveis, passíveis de investigação), Denyse adotou o texto bíblico (Shir -Hashirim-'poesia das poesias'-em hebraico) como ponto em relação com poesias clássicas universais e contemporâneas conhecidas pelos participantes.

"As produções humanas, embora aparentemente desconexas, encontra-se em constante inter-relação. Na verdade, constroi-se uma grande rede, como o trabalho de indivíduos e grupos, onde os fios são formados pelos bens culturais. Se se considerar toda e qualquer produção humana como texto a ser lido, reconstruído por nós, a sociedade pode ser vista como uma grande rede intertextual, em constante movimento. O espaço da cultura é, pois, intertextual.Essa ideia não imoplica harmonia como característica definidora da cultura, mesmo porque não existe um, mas vários grupos culturais dentro de uma mesma sociedade."(Paulino, Walty e Cury, 1997).

Finalmente, Denyse conclui que, a seu ver, o autor do poema provavelmente dirigiu-se ao ser amado e não à terra onde habitava. Neste caso, entramos no campo da interpretação do texto...e isto dá pano para outras muitas mangas ...

Lembrete: no próximo sábado, 27/06 , faremos uma viagem 'interliterária': num paseio pela leitura de obras de grandes poetas brasileiros, perceberemos ( ou não) possíveis diálogos traçados no tempo e no espaço. A propósito de espaços e campos, encerraremos o semestre com a leitura de um formante de Galáxias, do poeta Haroldo de Campos.

Intertextualidades


Por Ellen Hardy

Incomoda-me o tanto que temos discutido sobre a presença ou não de intertextualidades nos textos. Para mim é vão, pois eu vejo intertextualidades em todos eles, sejam elas intencionais do autor ou não, percebidas ou não pelo leitor, de forma consciente ou não.

Às vezes elas são extremamente explícitas, como nos trabalhos dos DJs, que usam trechos de obras alheias sem o menor pudor e criam combinações, essas sim de sua autoria, verdadeiras saladas de trechos de músicas, capazes até de ficar mais bonitas que as originais... aos ouvidos de seu público. Outras vezes são mais sutis, como em meu texto do exercício: “Vou-me embora pro passado”, apesar de não ser a mesma frase, seu som parecido e a presença no início do texto, remetem o leitor para a poesia de Manoel Bandeira. Desde que ele a conheça.

É claro que pode acontecer de, ao ler o mesmo texto, alguém ver intertextualidades que eu não percebo, ou o contrário, não enxergar aquelas que para mim são evidentes.
Li numa entrevista de um jovem comediante: “Sei que minha comédia não é para todo o público. Já fiz show para (...) uma galera chão-de-fábrica que não achou a menor graça no meu trabalho (...) Se a pessoa não tiver referência, não vai achar a menor graça no meu espetáculo. Precisa saber quem são, por exemplo, os personagens que trago ou as vivências de que falo.” Taí: se quiser que suas intertextualidades intencionais sejam percebidas e apreciadas, o autor tem que escolher referências que seus leitores conheçam.

Digo intencionais pois vejo que, além das intertextualidades aplicadas propositadamente pelo autor, sempre haverá aquelas inseridas inocentemente, sem que ele mesmo se dê conta. Pois veja, a rigor, até mesmo o idioma usado no texto é uma forma de intertextualidade. Sim, pois se trata de uma referência cultural que só será percebida se o leitor tiver essa referência, ou seja, souber interpretar aquela língua ou pelo menos reconhecê-la.

Eu, por exemplo, não entendo nada dos letreiros das lojas nas ruas da Liberdade, que intuo que estejam em japonês, mas bem poderiam ser em coreano ou chinês e eu nem me daria conta da diferença. Minha vivência apenas permite que eu reconheça que se trata de escritos em língua do extremo oriente; essa é a única intertextualidade que sou capaz de captar, tanto que se alguém imitar a linguagem visual sem significado nenhum, nem vou perceber!

Outra coisa eu percebo naqueles dizeres para mim misteriosos: considerando-se que estão no centro de São Paulo, é evidente que estão dirigidos a uma parcela bem específica do público, à qual não pertenço. Essas são intertextualidades propositalmente inseridas para limitar a leitura a um público definido e excluir as demais pessoas que com elas se depararem; intertextualidades exclusivas, que excluem parcelas indesejadas do público. Como se o tal comediante provocasse propositadamente a sensação de excluído cultural à “galera chão-de-fábrica”.

Às vezes a gente não entende o significado do texto, mas reconhece sim sua intertextualidade, ou pelo menos parte dela. É só pegar uma estrada qualquer no Brasil para notar o uso de palavras indígenas para nomear cidades, rios, morros e estradas. Mesmo dentro da cidade, ruas emprestam seus nomes indígenas ao ponto de táxi, à banca de jornais e à padaria. Eu não sei o significado de quase nenhuma delas; mesmo assim reconheço pela sonoridade que são indígenas do Brasil.

Considerando o exposto, atrevo-me a definir que intertextualidades é o conjunto de referências aplicadas na construção e/ou na interpretação de um texto. Então elas estão presentes sempre, em qualquer texto. No texto literário, por exemplo, o autor tem que usar, no mínimo, suas próprias referências culturais de idioma e de alfabetização. Por isso ouso afirmar que, sem intertextualidades, o texto não existe.

Olhos que não vêem, coração que não sente. Se por um lado a intertextualidade intencional inserida pelo autor somente será apreciada por quem conhecer o referencial adotado, mesmo que “não lembre de onde já viu antes”, por outro lado a obra nunca será imune a referências desavisadas a outras leituras pessoais do leitor. Isso porque a bagagem cultural do leitor promove uma interpretação única: a percepção de uma combinação estritamente pessoal de referências, que independe das intenções do autor. Sim, pois também o leitor pode ter referências culturais desconhecidas pelo autor, o que o faz perceber intertextualidades desavisadas, que o autor nem sequer sonharia. “Olhos que não vêem, coração que não sente”, e esses olhos também são do autor: uma vez publicada, a obra ganha vida própria à revelia do autor, como um Frankenstein. A cada novo leitor, e a cada novo momento do mesmo leitor, cria-se uma nova vida relacionada a sua história pessoal. Isso acontece pelas diferenças entre as vivências culturais do autor e do leitor, e se intensifica quando há inversão da linha do tempo.

Finalizo colocando essa interessante peculiaridade das intertextualidades. A linha do tempo do autor é diferente da do leitor. Explico: o autor segue a linha do tempo da história da humanidade, pois somente poderá utilizar referências criadas antes do momento de criação do seu texto. Mas a linha do tempo do leitor segue a das experiências vividas ao longo da sua vida, ou seja, ele poderá também perceber referenciais que só passaram a existir depois na História, mas antes na sua história pessoal. Para o leitor os referencias não precisam ter sido criados antes do texto, apenas precisam ter aparecido antes na sua vida. Um exemplo: o jovem fã de Guerra nas Estrelas vai conhecer as chaminés da La Pedrera de Gaudí e numa primeira reação impulsiva pensa que são inspiradas nos soldados do filme, que foi lançado 65 anos depois. É o mesmo que dizer que o pai é a cara do filho... verdade, ele é mesmo, sem importar quem veio primeiro ao mundo, mas apenas quem chegou primeiro à vida do leitor.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O AMOR E OS EQUÍVOCOS


"Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone"
VERLAINE

Las horas de la vida
Las cartas del silencio
La sombra y sus desígnios
Diga qué juego
Para seguir perdendo
Neruda

Não me tomem por homofóbico. Acompanhei os delírios de amor de vários amigos gays. Assisti a todo sofrimento. A toda intolerância. E os vi morrer nos primeiros momentos da AIDS. Por isso, quero contestar a definição do querido Fábio sobre amor platônico.

O discurso de Alcebíades â mesa de Platão declarando sua louca paixão por Aristóteles, não é, em si, a definição que Fábio quis dar.
Primeiro, o amor delirante pelas mulheres, no sentido que se tem hoje, só foi inaugurado pelos trovadores, por volta do ano mil e duzentos. Antes disso, e, principalmente no mundo clássico, as mulheres eram menos do que meras sombras; algo para dar prazer aos homens e assegurar a reprodução da espécie.

Na Grécia de Platão, o amor entre dois homens era extremamente sensível. Diferente do que seria, posteriormente, ao galanteador.

Foi o amor entre dois homens que determinou a sina de Édipo e sua família.A saga de Édipo foi inaugurada pela homossexualidade do avô dele que traiu o amante casando-se com a avó de Édipo. O amante se mata e a família dele roga a praga que daria início à trilogia tebana.

Antes do amor às mulheres, amor só a Deus. Por essa razão, (culpa dos trovadores) o amor carnal é parte da Modernidade. Antes, segundo o filósofo alemão WEISCHEDEL, Wilhelm in Platão ou o Amor Filosófico (A Escada dos Fundos da Filosofia. 5 trad: Edson Gil- Ed angra, 2008), a humanidade vivia o amor espiritual (esse, sim, inaugurado por Platão).

Não fosse assim, o que faria de todos os meus amores de fantasia?
Não fosse assim, o que seria de Dante e Beatriz? De Camões e Inês de Castro?

Roberto Dupré, junho 2009.

domingo, 14 de junho de 2009

Sexto encontro ( 13/06-feriadão)




Em 13/06, éramos poucos no antigo quarto do casal Ernesto e Lúcia de Castro, na antiga Mansão das Rosas, projetada como presente de casamento pelo escritório de arquitetura do pai de Lúcia, Ramos de Azevedo.

Devido ao feriado, talvez, acabamos tendo a oportunidade de nos deter na leitura de textos dos colegas e comentá-las.

Depois de perceber claramente a diferença entre um texto apenas ouvido ( tudo soa maravilhosamente bem escrito) e o mesmo texto ,posteriormente, lido( quando percebemos repetições, problemas com tempos verbais, concordâncias, pontuações, etc.), sugerimos sua reescrita a partir dos comentários do grupo.

Num segundo momento, lemos A última crônica, de Fernando Sabino. Além da intertextualidade com o poema de Manuel Bandeira - Meu último poema-, que já havíamos lido e 'intertextualizado', iniciamos conferências para interpretação da crônica e para tentar encontrar marcas deste gênero literário . Para alguns, tratava-se de ficção, para outros, realidade...

Mas, afinal, o que é realidade? Pode a linguagem dar conta dela?

NÓS, O TEXTO E A MORAL DA HISTÓRIA


Nós três na cama.
Ana: a Juliana Paes parece grávida; o rosto dela está mais cheinho.
E o Arthur, quieto.
Eu: essa dancinha enche o saco.
E o Arthur, mais quieto ainda.
Vó: na Índia se fala português?
Aos onze anos, o Arthur que ainda sabe perceber as coisas.

sábado, 13 de junho de 2009

Amor Sádico

Oh amor que enche e entope minhas veias,
Que me enche de loucura, que me enche de tristezas,
Amor bandido, marginal, amor fétido, amor carnal,
Amor platônico, amor sáfico, amor dos amores.



Oh, ser amado, onde estás que não lhe vejo, nem lhe sinto o cheiro doce de teu caralho?
Só de pensar em ti minhas entranhas efervilham,
Teu amor por mim é como o amor do Sol pela Lua,
Nunca nos tocamos, mas sabemos que nos amamos.



Ai,esse amor bandido, recriminado e pisoteado,
Já mataram tantos em nome de ti, será que serei o próximo?
Lembro-me do pupilo de 14 anos, que amou muito, mas
[não soube ser amado e foi ao Hades.
Num mundo como o nosso será tão difícil ainda os discípulos
[Platão e Safo se amarem como na sua fase áurea?



Oh amor que me rasga, me chicoteia com tuas palavras chulas,
Me queima com teu desejo incontrolável de querer sempre mais,
Ah Justine, somente tu para aguentar as tentações deste e não sucumbir,
Eu ,mero mortal, deixo-me levar pela barca de Belzebu onde quer que ele vá.



Oh, amor que tanto procuro, mas jamais encontrei, donde estás?
Será que perdi meus olhos com o tempo, ou com tamanha violência
[sofrida pelo meu povo desde o sec. XIV?
Amor que nunca teve idade, mas tem sexo, o gosto doce do sexo
Sentir tua carne adentrar em mim é dos maiores prazeres desta terra
[cheia de misérias.
Será que por amar demais, gozar demais e viver demais, preciso morrer?

Fábio Zeitim

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quinto encontro



06/06 Neste sábado, demos continuidade a apresentações dos trabalhos intertextuais oralmente. Num segundo momento, os escreviventes partiram para as trocas de textos. Aos que, por alguma razão, não trouxeram suas produções, foi entregue Meu último poema ,de Manuel Bandeira, para que dialogassem com este poema. Ou seja: que escrevessem ,nas entrelinhas do poema, versos que fizessem sentido para o co-autor.

Depois da troca, lemos alguns diálogos entre o autor Bandeira e seus co-autores. Para encerrar, Ellen e Felipe leram seus trabalhos sobre intertextualidade e foram aplaudidos! Assim que os textos forem reescritos (ou não) em função dos comentários dos colegas e da mediadora, postaremos neste blog.

Ah!No intervalo, a propósito do trabalho com canções populares da Ira, lemos pela internet o poema Triste Bahia de Gregório de Matos e ouvimos a música de Caetano Veloso com o mesmo nome, nele baseado, também pela internet.Este vídeo pode ser assistido na barra de vídeo ao lado: "barroquismos".

Aproveito o momento para já postar o trabalho de Maria Guilhermina Kolimbrowskey(este não é o exercício do diálogo com Meu último poema):

MANUEL BANDEIRA
"Vou-me embora pra Pasárgada..."
PASARGADENSE

Agora sou amigo do Rei.
...Também vim de longe onde faces reviventes,
poderes rivais, traçam leis esquecidas em prontuários fantasmas.
Também fui poeta, senhor de sonhos impossíveis em falso
festival.também saí em busca de supostos privilégios,
nesta terra em que todos se julgam amigo do Rei.
Em projetos complacentes, simulacros poéticos acenam
ao buscador a possibilidade de um outro novo mundo de
maravilhosa liberdade em nova conquista existencial.
No meu espaço mentira,hoje sou o convite ao
poeta insatisfeito com a sua realidade.
Aqui ele também será amigo do REi...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aviso aos escreviventes


Queridos, este comunicado será passado por e-mail também e servirá como tira-dúvidas sobre o texto que trocarão no próximo encontro (06/06).

Como lembram, iniciamos nossa atividade lendo um fragmento de Galáxias, de Haroldo de Campos, investigando possíveis intertextualidades e pensando na questão dos limites entre prosa e poesia. Na ocasião, ensaiamos um parágrafo ( ou mais) sobre esta questão.Outro exercício para 'aquecimento' foi a produção de texto intencionalmente intertextual para que o grupo identificasse o que estaria sendo citado.

Enquanto trabalhávamos noções sobre o tema do atual módulo( 3 encontros), repeti diversas vezes a proposta de trabalho que deveria ser feito para a troca em classe com colegas( quarto encontro): localizar em suas leituras possíveis intertextualidades, apresentar ao grupo, problematizar o tema, talvez, e deixar claro ao leitor seu ponto de vista no tocante à própria descoberta.

Resumindo:
-constatar um fato intertextual;
-esclarecer ou lançar dúvida se se trata, realmente, de intertextualidade (problematizar);
-delimitar o ângulo que será abordado;
-Se for o caso de tentar convencer o leitor acerca de questão polêmica, argumente tentando invalidar antecipadamente provas que sustentariam um ponto de vista diferente do seu.

De modo geral, os textos argumentativos e expositivos não representam diretamente a opinião dos autores e pretendem-se objetivos. Neste nosso exercício, proponho algo diferente: que exponham e argumentem da forma mais subjetiva posssível, trazendo exemplos vividos ou vivenciados, sentidos ou pensados.

Finalmente, lembremos que o texto escrito tem no parágrafo sua unidade de construção.Essa unidade é composta de um ou mais períodos reunidos em torno de ideias estritamente relacionadas.Não há normas rígidas para paragrafação,e a tendencia atual é não usar parágrafos muito longos.

Recordando, cada parágrafo deve relaciona-se a uma ideia importante. Aquele que iniciar por uma frase-núcleo ou tópico frasal( o qual não precisa ser necessariamente no início do paráfrafo) oferece maior legibilidade, visto que tal frase funciona como elemento desencadeador das ideias subsequentes.

O Parágrafo pode ser considerado um microtexto( com introdução, desenvolvimento e conclusão) dentro de um texto maior, e deve ser claro, conciso e coerente.

No tipo de exercício proposto, a ordenação lógica das ideias será fundamental pera argumentação, relações causa-efeito, o encaminhamento do geral para o específico e conclusão.

obs: 1-evite repetição de termos, clichês e pormenores impertinentes;2-ponha em parágrafos diferentes ideias igualmente relevantes, relacionando-as por meio de expressões adequadas à transição;3- o desenvolvimento da mesma ideia-núcleo não deve fragmentar-se em vários parágrafos para que o texto não pareça ter mudado de asunto.


Estas orientações foram baseadas em; BARTOZZO,Valdir Heitor- Pró-universitário- Módulo I-USP. Secretaria do Estado da Educação, SP,2004.

PS: as fotos dos escreviventes foram feitas por Ellen Hardy! Obrigada Ellen...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Quarto encontro


30/05-Finalmente o dia das leituras dos trabalhos. Poucos apresentaram suas reflexões, mas estes poucos foram muito interessantes, inclusive com leituras de suas produções postadas em seus blogs ou apoiadas em power points por eles realizados. Esperamos que, no quinto encontro ( de 8), possamos realmente trocar, em duplas, os textos que estão sendo reescritos ou melhor desenvolvidos.Aos que preferirem, deixamos outra sugestão, bem ampla, de tema para texto: " escrever sobre a escrita é o futuro da escrita"- frase de Haroldo de Campos que consta no primeiro formante de suas Galáxias.

Ao que parece, a grande diferença entre este módulo e os anteriores é que ele apresenta um grau de dificuldade maior. Enquanto vários módulos anteriores trataram de motivar comentário crítico sobre obras ( ensaio), ou foram inspirados em memórias dos escreviventes (relatos, autobiografia))e também em criação de seres imaginários( descrições e narrativas), aqui tentamos traçar um caminho para um texto expositivo e/ou argumentativo. Para complicar, somamos noções de conceitos da Literatura Comparada ainda muito recentes.

Evidentemente não se pretende esgotar o assunto 'intertextualidade', mas trazer um pouco do repertório de cada um, provocar um 'mergulho', um movimento vertical em direção a apropriações culturais, simbólicas e subjetivas, um entrar e sair do labirinto de fios do intertexto. A ideia ,aqui, é dar voz a um leitor-autor, que se reconhece como parte no (dis)curso da história que está sendo lida e narrada ao mesmo tempo.

Terceiro encontro


Em 23 de maio, iniciamos o Escrevivendo explicando aos escreviventes que ainda não têm blog como se criar um. Com a ajuda do Felipe Lucchesi( atual coloborador na tarefa de reunir textos e envio de mensagens ao grupo), criamos , ao vivo, um blog para o Rafael.Com o auxilio do lap top e de projetor, demos as primeiras orientações sobre como publicar postagens: textos, imagens, vídeos e outros.

Dando continuidade ao que foi entregue para leitura em casa, a saber, a transcriação de Bereshit feita por Haroldo de Campos, comentamos mais este exemplo de intertextualidade, chamando a atenção para as 'palavras-valises' criadas pelo poeta, baseadas diretamente no original em hebraico.

Mais do que esboços do trabalho solicitado para este encontro sobre possíveis intertextualidades descobertas individualmente pelos escreviventes, os participantes trouxeram o exercício proposto no segundo encontro (anterior), o de criar textos contendo alguma intertextualidade para que o grupo tentasse descobrir qual teria sido a intenção do autor.Percebe-se que ,para muitos, o amplo
conceito 'intertextualidade' ainda não está claro.

Continuamos a leitura dos textos produzidos e, posteriormente, iniciamos, ainda que oralmente, a comentar sobre os trabalhos que estavam surgindo: as descobertas intertextuais ( e interdisciplinares) dos escreviventes.

Apesar de salientar que o desejado era fugir dos exemplos já prontos da internet, ou dos mais usados em cursinhos,e sim, ao contrário, recorrer a descobertas pessoais, percebe-se grande dificuldade em assumir autoria neste momento. Até mesmo escreviventes que participam do projeto há muitos anos, inclusive criando textos sobre outros textos e com muitas citações, 'travaram' diante da proposta deste módulo. Curioso...

Primeiramente houve estranhamento no conceito de texto na contemporaneidade( v. Cury e Campos). Depois, estranharam a tarefa de trazer descobertas próprias: isto seria arriscado? Finalmente, expor , analisar e esclarecer para o grupo da oficina uma descoberta pessol, argumentanto( se necessário) sobre seu ponto de vista acerca da
intertextualidade/interdisciplinaridade...

Podemos ser subjetivos em discursos expositivos e argumentativos?

Deixamos esta questão no ar.

Nos últimos 10 minutos, Fabiana Turci apresentou seu interessantíssimo trabalho sonoro baseado em obra literária: "são poesias sonoras, que complementam meu trabalho de pesquisa. tomo a liberdade de te enviar uma, que será um dos anexos ao meu TCC do bacharelado em filosofia, sobre o cansaço a partir da obra de Blanchot. o fato é que eu senti necessidade de criar um campo a partir do qual o cansaço pudesse ser experienciado, de uma forma bem empírica e intuitiva. essa poesia, especificamente, foi construida com um poema da Hilda Hist, entrecortado por começos de diálogos do Blanchot. de forma que ela é toda intertextual - o meu trabalho foi só o de edição, o que sei que não é pouco, porque o som, nesse caso, é mais um significante."

sábado, 23 de maio de 2009

Sobre crianças, lágrimas e equívocos do repertório


A velhice dói mais no fim da tarde.
Então, ligo a TV.
Ás oito e meia, o Jornal Nacional me conta a história do assassinato da pequena Gabriela.
Fico imaginando que ela também estava esperando por mais um casamento na novela das oito.
E choro (acho que de saudades dos netos).

Quase no final da cerimônia indiana (foi linda, Gabriela),
Minha neta Beatriz liga e comunica de sopetão:
Você vai ser bisavô.
E eu, que me sentia tão só, percebi que a
Grande família ia (re) começar...
Perdão, tenho que chorar.

(Roberto Dupré – maio 2009)

domingo, 17 de maio de 2009

Segundo Encontro

(16/05) No segundo encontro, fizemos nova apresentação do grupo que cresceu mais ainda: cerca de 30 pessoas interesantíssimas e interessadíssimas na tal 'intertextualidade'.Advogados, jornalistas, vendedores, aposentados e o pessoal de Letras, claro, entre outros.

Retomando o primeiro encontro, ouvimos as leituras de diversas opiniões sobre se as Galáxias de Haroldo de Campos seriam prosa ou poesia. Se isto tem importância(perguntaria Roberto Dupré)? Nenhuma.

Exatamente pelo fato de o próprio poeta ( que buscou o ápice de uma prosa)ter mudado de idéia, anos depois, sobre em que 'forma' caberia sua obra, procurei, com esta prática, deixar bem claro que, em nossa oficina de escrita para o cotidiano, nomes e classificações são o que menos importam .Ao contrário, pretrendemos problematizar a linguagem, seus usos e opções pessoais.

Depois do intervalo, lemos Coema Piranga, poema de Casiano Ricardo ( Martin Cererê)e sugerimos ,para casa, a leitura de transcriação de texto em hebraico, feita também por Haroldo de Campos: Bereshit.

Ainda em sala, fizemos o breve exercício de escreverem um texto curto, com alguma intertextualidade intencional, para que o grupo tentasse descobrir qual seria.Algumas foram mais evidentes, como 'palmeiras e sabiás', outras menos, como referência a filme de Peter Greenway que assistimos em outro módulo Livro de Cabeceira.

No próximo encontro, iniciaremos a ler os trabalhos sobre intertextulidades descobertas pelos participantes. Depois, este mesmo texto será usado para a famosa troca 'a la Calkins".

Primeiro Encontro


(09/05)Num princípio, no módulo maio/junho sobre intertextualidade, ouvimos a leitura que o autor Haroldo de Campos faz do primeiro formante de sua obra Galáxias ( www.poesiaconcreta.com).

Partindo do oral para o texto escrito, comentamos sobre os vários tipos de intextualidades que estavam explícitas no texto, e as nem tanto.No exercício de tentar aproximar o texto de Haroldo com a ' biblioteca' interior de cada participante, ficou mais claro que a 'intertextualidade do leitor' ( receptor) é tão importante quanto a do autor, em sua obra, seja ela intencional ou não.

Comentamos ,ainda, a aproximação dos atos de leitura e escrita: ao ler, já estaríamos criando nosso próprio discurso, e, ao escrever, estaríamos 'transcriando'nossas leituras.

Prosa ou poesia? Esta questão sobre o gênero do texto ouvido e lido ficou para ser pensada durante a semana. O encontro seguinte, iniciaríamos com a leitura sobre as diversas opiniões dos 'escreviventes'.

PS: para ouvir (a leitura do próprio poeta Haroldo de Campos d)o primeiro formante de Galáxias, ir para www.poesiaconcreta.com . Clicar em 'som' e uma vez em som, clicar em 'discos'. Lá haverá um disco contendo alguns formantes desta obra,16 se não me engano.

domingo, 10 de maio de 2009

Originalidade?

“O texto literário é um palimpsesto. O autor antigo escreveu uma ‘primeira’ vez, depois sua escritura foi apagada por algum copista que recobriu a página com um novo texto, e assim por diante. Textos primeiros inexistem tanto quanto as puras cópias; o apagar não é nunca tão acabado que não deixe vestígios, a invenção, nunca tão nova que não se apóie sobre o já-escrito". (SCHNEIDER, 1990, p.71)
BIBLIOGRAFIA

BAKHTIN, M.(1929)Marxismo e filosofia da linguagem. São paulo: Hucitec,1981.

BAKHTIN, M. (1979)Estética da criação verbal.São Paulo: Martins Fontes,1992.

CAMPOS, Augusto de.Viva Vaia. São Paulo: Duas Cidades,1979.

CAMPOS, Haroldo de .Galáxias.São Paulo: Ed. 34,1983.

CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Uso da vírgula. São Paulo: Manole, 2005.

GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de redação - o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

MACIEL,Maria Esther. A memória das coisas. Ensaios de literatura, cinema e artesplásticas.Rio de Janeiro: Lamparina,2004.

MARTINS, Eduardo. Com todas as letras - o português simplificado. São Paulo: Moderna, 2000.

PLAZA,Julio.Tradução Intersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 1987.

RICARDO, Cassiano.Martim Cererê.Rio de Janeiro:José Olympio,1978.

SANTAELLA, Lúcia.Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual, verbal.São Paulo:Iluminuras, 2001.

SCHNEIDER, Michel.Ladrões de palavras. Ensaio sobre o plágio, a psicanálise e o pensamento.Trd. Luiz Fernando N. franco.Campinas:Ed UNICAMP, 1990.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

WORKSHOP PROJETO ESCREVIVENDO

Workshop para educadores na Casa das Rosas faz sucesso, gerando até lista de espera

Projeto Escrevivendo é ampliado e passa a ter programa especial para professores; inscrições para primeira edição rapidamente se esgotaram e nova data será programada

O Projeto Escrevivendo, que faz sucesso com oficinas de leitura e escrita para o cotidiano, com interface para blogagem, entre outras iniciativas, ganhou uma programação especial para educadores, o Workshop Projeto Escrevivendo 2009. O novo formato leva o modelo do Escrevivendo para educadores de museus, bibliotecas, Centro de Integração da Cidadania (CIC), centros culturais e professores da rede de ensino. “Há uma grande demanda por uma formação continuada e desenvolvimento do processo pessoal de escrita. As fases escolar e universitária, ou a atividade exercida no trabalho, não suprem -ou até inibem- a nossa necessidade de expressão e criação, daí a importância das oficinas,” declara Karen Kipnis, coordenadora do Projeto Escrevivendo.

Na primeira edição do Workshop para educadores, todas as vagas foram preenchidas e já há lista de espera para a próxima, no segundo semestre. Informações pelos telefones (11)3288-9447 e (11) 3285-6986. A realização é da Secretaria de Estado da Cultura em conjunto com a Poiesis – Organização Social de Cultura, que administra a Casa das Rosas.

Sobre o Projeto Escrevivendo

O Projeto Escrevivendo é um desdobramento do minicurso Textando2005, então coordenado pela professora Neide Luzia Rezende (FE/USP) e desenvolve-se, desde 2006, na Casa das Rosas. Com a proposta de incentivar jovens e adultos a produzir textos e a refletir sobre sua maneira de escrever, a oficina pretende desmistificar o ato da escrita, transformando-o num processo centrado na reflexão sobre o assunto, a forma textual adotada, o papel do leitor e o encadeamento das idéias. Assim, seu objetivo é, além de desmitificar o ato de escrever, transformar os autores em leitores críticos de seus próprios textos.


“As oficinas buscam motivar e criar contextos para práticas de escritas. Partimos da leitura de textos literários para problematização sobre gêneros e tipos do discurso e discussão de temas. Depois, todas as produções dos 'escreviventes' são lidas e comentadas pelo grupo; e reescritas. É Importante ressaltar que enfatizamos mais o sujeito e seu processo que o produto. ”afirma a professora.


Parte deste projeto envolve também a coordenação de estagiários de licenciatura oriundos da FE/USP- alunos do curso de Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa, da professora Neide Luzia de Rezende. “Neste estágio, podem suprir uma grande demanda do público por atividades desta natureza em espaços culturais. Além disto, esta é uma oportunidade real que estes alunos têm de planejar, ministrar e avaliar suas aulas,” explica Kipnis.


Quem pode participar

Pré-vestibulandos, estudantes universitários, profissionais formados, aposentados, 'seminovos'-como diz vovó Neuza ('vovó blogueira'- escrevivente que caiu na mídia) e interessados no tema podem participar das oficinas que acontecem na Casa das Rosas e que já foram oferecidas também no Museu da Língua Portuguesa e na Biblioteca Temática de Poesia Alceu Amoroso Lima. O objetivo é alcançar um público heterogêneo.



Serviço da Casa das Rosas– Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura

Endereço: Av. Paulista, 37, Bela Vista - próximo à Estação Brigadeiro do Metrô

São Paulo – SP


Horário de funcionamento:

De terça a sexta, das 10h às 22h

De sábado e domingo, das 10h às18h


Tels.: (11) 3285-6986 ou (11) 3288-9447

www.poiesis.org.br/casadasrosas

Estacionamento conveniado: Al. Santos, 74