segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Proposta II- reunião de alguns textos "Que leitor sou eu"

Leitora que sou:


O meu começo foi meio difícil , dependo dos outros que não tinham tempo para contar as historias para mim .

Sempre tive adoração por bichos e viagens, meu pai , sertanista na época costumava inventar algumas lendas e então, quando estava em casa , me contava .

Mais que depressa, quis virar mocinha termo muito usado na época , sapatos com saltos, viajar pela mundo , ficar em hotéis , beijar namorado de baixo de chuva , ser linda e se possível de olhos azuis, acreditava que tudo sempre acabava bem nas fotos em branco e preto.

Assistia muitos filmes a tarde e depois lia livros desses filmes ,vivia muitas vidas incríveis .

Eu achava que um dia chegaria minha vez de verdade algo aconteceria e me tornaria uma pessoa parecida com algum personagem. Mas como esse tempo não chegava, mudei de tom .

Passei a adorar as mortes horríveis e historias de detetives , de vingança e sexo .

Agora não queria mais nenhum sapato de salto alto, queria era passear pelo espaço, outros planetas , acreditei em bruxas, fantasmas e vampiros e em pessoas más .

De repente tudo perdeu o pé. Viva a literatura fantástica, lisérgica, livre de todo tempo e forma. Essa viagem não durou muito para mim , livros e momentos confusos me traziam angustia, sentimento que já não me faltava .

Causas ….resolvo procurá-las .

Falando muito , ouvindo pouco ,volto para a infância , para meus sonhos e pesadelos .

Psicanalise , psicologia, tentei, mas cansei também de ter que haver razão para tudo.

Hoje não acredito nisso.

Sublimar na poesia, uma possível saída. Sou apresentada as minhas poetas prediletas nada virgens e suicidas e com elas o amor realmente impossível .

Mudo de assunto de novo na minha vida , tenho pressa, leio para trabalhar , tenho que ler sempre com causa , para mim, exercício de secura da imaginação .

E foi assim por um tempo , e ,paro de ler tudo , cansei , me sinto solitária, sem acreditar na possibilidade de criar.

Hoje , encontro em intervalos , espaço para mim , quero acreditar que posso ir para onde quiser, não é fácil, mas vou tentar .




“ Moro no ventre da noite ;

sou a jamais nascida .

E a cada instante aguardo a vida .”

Cecilia Meireles


Laura


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Homem-Aranha, n°7




Que Leitor sou eu? Ou As Aventuras de Dom Henrique no Reino da Leitura e os Costumes que ele Trouxe de Lá.

Vivendo e sentindo fortes emoções. Emoções que são, que vem e vão e me deixam melhor, inteiro, purificado.

Quando eu era criança, percebia que nas noites em que não brilhava a lua, minha mãe aproveitava para apagar toda a luz elétrica da casa, deixando acesas apenas algumas velas. Isso era bem divertido.

Meus irmãos e eu sentávamos no chão à sua volta, em círculo.
Assim começava a nossa “hora do conto”.

Curiosamente, minha mãe não lia, narrava.
Não falava simplesmente, ela soletrava as palavras numa interpretação ritualística que fazia tremer todo o corpo da gente.

Nessa hora singular eu reparava que não mais reparava o mundo ao meu redor.
Éramos apenas nós, nossas sombras refletidas na parede e a imaginação a todo galope, cavalgando de rédeas soltas.

Tempos depois, dentro de uma banca de jornal, eu conheci o Homem-Aranha e nossa amizade se estenderia por muitos e muitos anos.

Eu tinha sete anos quando isso aconteceu. E dos sete anos a gente nunca esquece.
E sete também era o número da primeira revista do Homem-Aranha que eu li.

Abri os olhos para o colorido Universo dos Quadrinhos, até que um dia ou noite, por obra e graça da divina Curiosidade, escorreguei de corpo inteiro dentro do mágico caldeirão de sopa de letrinhas, imagens, palavras e palavrões.

Com as novas perspectivas dos horizontes alargados, escancararam-se todas as portas e comportas dos quatro elementos e eis que surge um ledor.

A adolescência chegou com uma incontrolável vontade arqueológica de encontrar uma botija cheia de ouro que alguma baronesa porventura tivesse enterrado no árido solo dos Grandes Sertões Veredas, lá pelas bandas do Ceará. Será?

Então comecei a procurar a Arca Perdida, o Cálice Sagrado, as Minas do Rei Salomão. Mas ficaria satisfeito se achasse pelo menos a xícara de porcelana na qual Lampião bebia seu café amargo.

Cava, cava, cava, cava.

Nessa corrida febril pelo vil metal, minha recompensa maior foi um monte de calo nas mãos quando esburacava o quintal de casa. Tive sorte de não experimentar a força braçal de um tabefe do meu pai.

Mas foi “cavando” no chão da biblioteca que ganhei passagem para embarcar n’As Viagens de Gulliver e de quebra, ainda encontrei o mapa da Ilha do Tesouro.

Fiquei tão rico que pude dá A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, dentro de um balão.
Nesse mesmo dia eu vi um feliz Santos Dumont descer à porta de sua casa no famoso dirigível, A Balladeuse.

Abrindo a minha Bíblia Ilustrada, peregrinei até a Terra Santa onde Sansão venceu um exército de filisteus, mas foi incapaz de resistir aos encantos de Dalila.

Conheci Os Três Mosqueteiros e nossa missão era descobrir a identidade do Homem da Máscara de Ferro.

Outras aventuras e personagens fascinantes certamente esperavam por mim, logo ali, bastando apenas virar a página.

Quando eu virei a página para saber mais sobre A Terra, o Homem e a Guerra no cotidiano dos agricultores do Brasil, fiquei indignado com O Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Em homenagem a esse Guarani de cara pálida rezei A Missa do Galo.

Desisti da Agronomia e continuei minha viagem pela História sem Fim.

Destemido, percorri 20 Mil Léguas Submarinas, cruzei o Canal da Mancha na Saga dos Plantagenetas, e no retorno, de passagem pelo antigo reino da Gália, parei para descansar e assistir, de camarote, o trágico fim d’Os Reis Malditos.

Naqueles dias, eu me apaixonei por uma moça, uma pobre camponesa de Domremy, um pequeno vilarejo que ficava ali mesmo no reino de França.

Mas a moça foi acusada de bruxaria e morreu queimada na fogueira da Inquisição.

Eu ainda não tinha 24 horas na vida de uma mulher e já estava pensando seriamente Sobre a brevidade da vida e A felicidade conjugal seguido de O Diabo.

E minha orelha ficou pegando fogo. Um aviso. Eu deveria fugir para As Catacumbas de Roma ou para o Egito, como fez a Sagrada Família.

Eu fugi do Fantasma da Ópera, corri o mundo como um cão sem dono, um Vagabundo sem Dama, um trovador sem versos.

Pelos portos e feiras das cidades, comecei a falar nas maravilhas do novo mundo e na Conquista do Paraíso através dos Sete Mares Nunca Dantes Navegados.
Ir além, além, mais além, mais.
Navegar é preciso!

Fui tido como sem juízo. E por diversas vezes tentaram me enviar para o Inferno de Dante.

E nesse Elogio da Loucura, freqüentei a Escola de Sagres e virei um observador de estrelas, seguindo carreira como um Mercador de Veneza nas caravanas de Marco Pólo.

Estive na trama de muitos romances históricos e me divertia bastante quando surgiram as novas Cruzadas, mas o contagiante fervor das teses luteranas e as quixotescas batalhas contra os moinhos de vento eram mais atraentes.

De repente, alguém acendeu a vela do Iluminismo e eu vi a opulência antropocêntrica dos Papas renascentistas, embarquei nas Grandes Navegações, vislumbrei o nascer do Império Brasileiro e o morrer da Dinastia Tudor. Nada.

Nada de depressão, mórbida tristeza ou apego a sentimentos doentios.
O que eu quero mesmo são as leituras cheias de nutrientes para o espírito.
Aquelas leituras que balançam e embaçam os olhos sempre que delas nos lembramos.

De uns tempos para cá, recito a seguinte Oração do Livramento:

Santo Livro da Vida,
Livrai-me dos livros que não livram a vida.
Livrai-me do perigo de não ser
Literalmente livre.

Essa é Uma Breve História do Tempo, onde todos os meus livros são importantes e merecedores de uma ou mais leituras, dependendo do meu estado de espírito.

Tenho lido mais que ontem, talvez os mesmos temas, mas não os mesmos livros.

Assinei um termo de compromisso com a liberdade de escolha e o prazer da leitura de forma espontânea como uma saudável alternativa para grandes descobertas.

Não me arrependo das leituras que ainda não li.

Levo a vida numa boa, tranqüila mente, pois sei que os livros certos virão no tempo certo, beijar a boca da menina dos meus olhos.

Paulo Henrique Alves Lima
XII – IX - MMIX
São Paulo - Brasil

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