sexta-feira, 26 de junho de 2009

ANTROPOFAGIA

Por Fabiana Turci


- Que somos seres miméticos, ele me disse, tocando nos meus cabelos, como quem abandonasse. Pensei nas mãos, enquanto o cabelo ia se transformando em todos os cabelos de todas as mulheres que construíram aquele toque. Retruquei, ríspida, desesperada, que, chega um tempo, em que se é. “Se é o que?”, ele perguntou. Não o que: simplesmente, se é. O que se seguiu foi um caminho em que ele me dizia não haver autenticidade em nós, que somos constituídos por fluxos discursivos de tantos outrens. Ao que eu dizia não ser uma questão de individuação, de afirmar uma posição central de sujeito que não mais se sustenta: mas que era como a possibilidade do olhar, que escolhe, colhe e se apropria.
- Quando tivermos um filho, e ele, de repente, balbuciar o teu nome, você vai me dar razão.
O filho, pelo simples desejo, ia crescendo dentro de mim. Eu disse que era muito difícil conversar, agora, que a vida inteira tinha sido de versos e monólogos. E que, então, eu tinha vontade de citar Camille, Clarice, Ana, Hilda, Anais, e ele ia me acusar de inautêntica, e ia me colocar culpa de vampiro.
Ficamos no silêncio, sendo. Depois de tempo enorme, mastigado com chiclets, eu disse que aquilo não era imitação de um instante. Entre a sombra e o braço, ele concordou.

II.
Escrevi duas linhas num guardanapo amassado, depois de nove meses gestando as palavras. Reli, limpei os cantos da boca: vontade nenhuma de abdicar do verso. Fiz sopa de legumes com as letras dos poetas – só os mais íntimos - e ofereci a ele, como argumento. Perguntei, com falsa inocência, se eu engolisse o mundo, ele seria meu?

III.
Ele me mostrou um poema que escreveu em 1991, retirado do silêncio das pedras. Eu disse que gostava daquilo, que me lembrava manoelzinho, a quem tanto amo. Mas, num ato de súbita coragem, perguntei do que era feita a matéria das palavras. “Da ausência”, ele respondeu, tímido, seguro. É claro, é mais presente em nós o que nos falta. Mas, diga-me: ausência de que? Não de que: ausência. Não quis perguntar quem era a mulher para quem ele havia dedicado o poema antigo. Como se me lesse, ele disse, para se constar, que a tal Helena era a diretora da peça do teatro que serviu de centelha. Eu disse que Helena, a outra, tinha sido a primeira mulher que, aos cinco anos, eu afirmei ter vontade de ser.
- Mas agora você está contente em ser você?
Quando aprendi a ler, mastiguei Helena inteira. E agora, sou.

IV.
- Quando propuseram, em 1998, fazer uma Bienal sobre Antropofagia, acho que o Paulo pensou na incorporação dos valores do outro para construir os seus próprios. Mas sabe o que aconteceu? As pessoas, digo, os artistas, deram um cunho regionalista, pensando numa relação com canibalismo, e associando-o aos mitos e a formas sociais locais.
- Mas ninguém falou nada?
- Falar, acho que falou... Mas, e daí?
- E daí que alguém, algum crítico, alguém poderia ter falado de Montaigne.
- Poder, poderia. Mas não ia adiantar de nada. Mire veja: quando a coisa é tematizada, perde-se a perspectiva.
- ???
- Assim: na última Bienal, por exemplo, uma mulher pegou a obra do Camus e desconstruiu inteira, 32 mil palavras, e fez quadrinhos em ordem alfabética.
- Qual livro?
- Não importa... O Estrangeiro. Mas ninguém falou em antropofagia, e ficou todomundo sem entender nada.
- Falaram do existencialismo?
- Sim, sim: do existencialismo. Ninguém entendeu nada.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sétimo encontro



Em 20/06, vivenciamos um típico dia de nossa oficina: palestra e debate sobre intertextualidade com a convidada - professora Denyse Cantuária-; leitura e comentários sobre textos de escreviventes e até um bolinho de aniversário que o Benê trouxe no intervalo para a pré-comemoração de seu aniverssário.

Em sua palestra, Denyse optou por falar de Amor. Por meio deste tema universal, aproximou os participantes e suas poesias preferidas de grandes obras e de gandes poetas, demonstrando o quanto estamos empregnados de literatura, cotidianamente, em nosso falar.

Partindo do Cântico dos Cânticos ( quando já não se procura o ponto original e as 'fontes' deixaram de ser fixas para serem móveis, passíveis de investigação), Denyse adotou o texto bíblico (Shir -Hashirim-'poesia das poesias'-em hebraico) como ponto em relação com poesias clássicas universais e contemporâneas conhecidas pelos participantes.

"As produções humanas, embora aparentemente desconexas, encontra-se em constante inter-relação. Na verdade, constroi-se uma grande rede, como o trabalho de indivíduos e grupos, onde os fios são formados pelos bens culturais. Se se considerar toda e qualquer produção humana como texto a ser lido, reconstruído por nós, a sociedade pode ser vista como uma grande rede intertextual, em constante movimento. O espaço da cultura é, pois, intertextual.Essa ideia não imoplica harmonia como característica definidora da cultura, mesmo porque não existe um, mas vários grupos culturais dentro de uma mesma sociedade."(Paulino, Walty e Cury, 1997).

Finalmente, Denyse conclui que, a seu ver, o autor do poema provavelmente dirigiu-se ao ser amado e não à terra onde habitava. Neste caso, entramos no campo da interpretação do texto...e isto dá pano para outras muitas mangas ...

Lembrete: no próximo sábado, 27/06 , faremos uma viagem 'interliterária': num paseio pela leitura de obras de grandes poetas brasileiros, perceberemos ( ou não) possíveis diálogos traçados no tempo e no espaço. A propósito de espaços e campos, encerraremos o semestre com a leitura de um formante de Galáxias, do poeta Haroldo de Campos.

Intertextualidades


Por Ellen Hardy

Incomoda-me o tanto que temos discutido sobre a presença ou não de intertextualidades nos textos. Para mim é vão, pois eu vejo intertextualidades em todos eles, sejam elas intencionais do autor ou não, percebidas ou não pelo leitor, de forma consciente ou não.

Às vezes elas são extremamente explícitas, como nos trabalhos dos DJs, que usam trechos de obras alheias sem o menor pudor e criam combinações, essas sim de sua autoria, verdadeiras saladas de trechos de músicas, capazes até de ficar mais bonitas que as originais... aos ouvidos de seu público. Outras vezes são mais sutis, como em meu texto do exercício: “Vou-me embora pro passado”, apesar de não ser a mesma frase, seu som parecido e a presença no início do texto, remetem o leitor para a poesia de Manoel Bandeira. Desde que ele a conheça.

É claro que pode acontecer de, ao ler o mesmo texto, alguém ver intertextualidades que eu não percebo, ou o contrário, não enxergar aquelas que para mim são evidentes.
Li numa entrevista de um jovem comediante: “Sei que minha comédia não é para todo o público. Já fiz show para (...) uma galera chão-de-fábrica que não achou a menor graça no meu trabalho (...) Se a pessoa não tiver referência, não vai achar a menor graça no meu espetáculo. Precisa saber quem são, por exemplo, os personagens que trago ou as vivências de que falo.” Taí: se quiser que suas intertextualidades intencionais sejam percebidas e apreciadas, o autor tem que escolher referências que seus leitores conheçam.

Digo intencionais pois vejo que, além das intertextualidades aplicadas propositadamente pelo autor, sempre haverá aquelas inseridas inocentemente, sem que ele mesmo se dê conta. Pois veja, a rigor, até mesmo o idioma usado no texto é uma forma de intertextualidade. Sim, pois se trata de uma referência cultural que só será percebida se o leitor tiver essa referência, ou seja, souber interpretar aquela língua ou pelo menos reconhecê-la.

Eu, por exemplo, não entendo nada dos letreiros das lojas nas ruas da Liberdade, que intuo que estejam em japonês, mas bem poderiam ser em coreano ou chinês e eu nem me daria conta da diferença. Minha vivência apenas permite que eu reconheça que se trata de escritos em língua do extremo oriente; essa é a única intertextualidade que sou capaz de captar, tanto que se alguém imitar a linguagem visual sem significado nenhum, nem vou perceber!

Outra coisa eu percebo naqueles dizeres para mim misteriosos: considerando-se que estão no centro de São Paulo, é evidente que estão dirigidos a uma parcela bem específica do público, à qual não pertenço. Essas são intertextualidades propositalmente inseridas para limitar a leitura a um público definido e excluir as demais pessoas que com elas se depararem; intertextualidades exclusivas, que excluem parcelas indesejadas do público. Como se o tal comediante provocasse propositadamente a sensação de excluído cultural à “galera chão-de-fábrica”.

Às vezes a gente não entende o significado do texto, mas reconhece sim sua intertextualidade, ou pelo menos parte dela. É só pegar uma estrada qualquer no Brasil para notar o uso de palavras indígenas para nomear cidades, rios, morros e estradas. Mesmo dentro da cidade, ruas emprestam seus nomes indígenas ao ponto de táxi, à banca de jornais e à padaria. Eu não sei o significado de quase nenhuma delas; mesmo assim reconheço pela sonoridade que são indígenas do Brasil.

Considerando o exposto, atrevo-me a definir que intertextualidades é o conjunto de referências aplicadas na construção e/ou na interpretação de um texto. Então elas estão presentes sempre, em qualquer texto. No texto literário, por exemplo, o autor tem que usar, no mínimo, suas próprias referências culturais de idioma e de alfabetização. Por isso ouso afirmar que, sem intertextualidades, o texto não existe.

Olhos que não vêem, coração que não sente. Se por um lado a intertextualidade intencional inserida pelo autor somente será apreciada por quem conhecer o referencial adotado, mesmo que “não lembre de onde já viu antes”, por outro lado a obra nunca será imune a referências desavisadas a outras leituras pessoais do leitor. Isso porque a bagagem cultural do leitor promove uma interpretação única: a percepção de uma combinação estritamente pessoal de referências, que independe das intenções do autor. Sim, pois também o leitor pode ter referências culturais desconhecidas pelo autor, o que o faz perceber intertextualidades desavisadas, que o autor nem sequer sonharia. “Olhos que não vêem, coração que não sente”, e esses olhos também são do autor: uma vez publicada, a obra ganha vida própria à revelia do autor, como um Frankenstein. A cada novo leitor, e a cada novo momento do mesmo leitor, cria-se uma nova vida relacionada a sua história pessoal. Isso acontece pelas diferenças entre as vivências culturais do autor e do leitor, e se intensifica quando há inversão da linha do tempo.

Finalizo colocando essa interessante peculiaridade das intertextualidades. A linha do tempo do autor é diferente da do leitor. Explico: o autor segue a linha do tempo da história da humanidade, pois somente poderá utilizar referências criadas antes do momento de criação do seu texto. Mas a linha do tempo do leitor segue a das experiências vividas ao longo da sua vida, ou seja, ele poderá também perceber referenciais que só passaram a existir depois na História, mas antes na sua história pessoal. Para o leitor os referencias não precisam ter sido criados antes do texto, apenas precisam ter aparecido antes na sua vida. Um exemplo: o jovem fã de Guerra nas Estrelas vai conhecer as chaminés da La Pedrera de Gaudí e numa primeira reação impulsiva pensa que são inspiradas nos soldados do filme, que foi lançado 65 anos depois. É o mesmo que dizer que o pai é a cara do filho... verdade, ele é mesmo, sem importar quem veio primeiro ao mundo, mas apenas quem chegou primeiro à vida do leitor.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O AMOR E OS EQUÍVOCOS


"Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone"
VERLAINE

Las horas de la vida
Las cartas del silencio
La sombra y sus desígnios
Diga qué juego
Para seguir perdendo
Neruda

Não me tomem por homofóbico. Acompanhei os delírios de amor de vários amigos gays. Assisti a todo sofrimento. A toda intolerância. E os vi morrer nos primeiros momentos da AIDS. Por isso, quero contestar a definição do querido Fábio sobre amor platônico.

O discurso de Alcebíades â mesa de Platão declarando sua louca paixão por Aristóteles, não é, em si, a definição que Fábio quis dar.
Primeiro, o amor delirante pelas mulheres, no sentido que se tem hoje, só foi inaugurado pelos trovadores, por volta do ano mil e duzentos. Antes disso, e, principalmente no mundo clássico, as mulheres eram menos do que meras sombras; algo para dar prazer aos homens e assegurar a reprodução da espécie.

Na Grécia de Platão, o amor entre dois homens era extremamente sensível. Diferente do que seria, posteriormente, ao galanteador.

Foi o amor entre dois homens que determinou a sina de Édipo e sua família.A saga de Édipo foi inaugurada pela homossexualidade do avô dele que traiu o amante casando-se com a avó de Édipo. O amante se mata e a família dele roga a praga que daria início à trilogia tebana.

Antes do amor às mulheres, amor só a Deus. Por essa razão, (culpa dos trovadores) o amor carnal é parte da Modernidade. Antes, segundo o filósofo alemão WEISCHEDEL, Wilhelm in Platão ou o Amor Filosófico (A Escada dos Fundos da Filosofia. 5 trad: Edson Gil- Ed angra, 2008), a humanidade vivia o amor espiritual (esse, sim, inaugurado por Platão).

Não fosse assim, o que faria de todos os meus amores de fantasia?
Não fosse assim, o que seria de Dante e Beatriz? De Camões e Inês de Castro?

Roberto Dupré, junho 2009.

domingo, 14 de junho de 2009

Sexto encontro ( 13/06-feriadão)




Em 13/06, éramos poucos no antigo quarto do casal Ernesto e Lúcia de Castro, na antiga Mansão das Rosas, projetada como presente de casamento pelo escritório de arquitetura do pai de Lúcia, Ramos de Azevedo.

Devido ao feriado, talvez, acabamos tendo a oportunidade de nos deter na leitura de textos dos colegas e comentá-las.

Depois de perceber claramente a diferença entre um texto apenas ouvido ( tudo soa maravilhosamente bem escrito) e o mesmo texto ,posteriormente, lido( quando percebemos repetições, problemas com tempos verbais, concordâncias, pontuações, etc.), sugerimos sua reescrita a partir dos comentários do grupo.

Num segundo momento, lemos A última crônica, de Fernando Sabino. Além da intertextualidade com o poema de Manuel Bandeira - Meu último poema-, que já havíamos lido e 'intertextualizado', iniciamos conferências para interpretação da crônica e para tentar encontrar marcas deste gênero literário . Para alguns, tratava-se de ficção, para outros, realidade...

Mas, afinal, o que é realidade? Pode a linguagem dar conta dela?

NÓS, O TEXTO E A MORAL DA HISTÓRIA


Nós três na cama.
Ana: a Juliana Paes parece grávida; o rosto dela está mais cheinho.
E o Arthur, quieto.
Eu: essa dancinha enche o saco.
E o Arthur, mais quieto ainda.
Vó: na Índia se fala português?
Aos onze anos, o Arthur que ainda sabe perceber as coisas.

sábado, 13 de junho de 2009

Amor Sádico

Oh amor que enche e entope minhas veias,
Que me enche de loucura, que me enche de tristezas,
Amor bandido, marginal, amor fétido, amor carnal,
Amor platônico, amor sáfico, amor dos amores.



Oh, ser amado, onde estás que não lhe vejo, nem lhe sinto o cheiro doce de teu caralho?
Só de pensar em ti minhas entranhas efervilham,
Teu amor por mim é como o amor do Sol pela Lua,
Nunca nos tocamos, mas sabemos que nos amamos.



Ai,esse amor bandido, recriminado e pisoteado,
Já mataram tantos em nome de ti, será que serei o próximo?
Lembro-me do pupilo de 14 anos, que amou muito, mas
[não soube ser amado e foi ao Hades.
Num mundo como o nosso será tão difícil ainda os discípulos
[Platão e Safo se amarem como na sua fase áurea?



Oh amor que me rasga, me chicoteia com tuas palavras chulas,
Me queima com teu desejo incontrolável de querer sempre mais,
Ah Justine, somente tu para aguentar as tentações deste e não sucumbir,
Eu ,mero mortal, deixo-me levar pela barca de Belzebu onde quer que ele vá.



Oh, amor que tanto procuro, mas jamais encontrei, donde estás?
Será que perdi meus olhos com o tempo, ou com tamanha violência
[sofrida pelo meu povo desde o sec. XIV?
Amor que nunca teve idade, mas tem sexo, o gosto doce do sexo
Sentir tua carne adentrar em mim é dos maiores prazeres desta terra
[cheia de misérias.
Será que por amar demais, gozar demais e viver demais, preciso morrer?

Fábio Zeitim

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quinto encontro



06/06 Neste sábado, demos continuidade a apresentações dos trabalhos intertextuais oralmente. Num segundo momento, os escreviventes partiram para as trocas de textos. Aos que, por alguma razão, não trouxeram suas produções, foi entregue Meu último poema ,de Manuel Bandeira, para que dialogassem com este poema. Ou seja: que escrevessem ,nas entrelinhas do poema, versos que fizessem sentido para o co-autor.

Depois da troca, lemos alguns diálogos entre o autor Bandeira e seus co-autores. Para encerrar, Ellen e Felipe leram seus trabalhos sobre intertextualidade e foram aplaudidos! Assim que os textos forem reescritos (ou não) em função dos comentários dos colegas e da mediadora, postaremos neste blog.

Ah!No intervalo, a propósito do trabalho com canções populares da Ira, lemos pela internet o poema Triste Bahia de Gregório de Matos e ouvimos a música de Caetano Veloso com o mesmo nome, nele baseado, também pela internet.Este vídeo pode ser assistido na barra de vídeo ao lado: "barroquismos".

Aproveito o momento para já postar o trabalho de Maria Guilhermina Kolimbrowskey(este não é o exercício do diálogo com Meu último poema):

MANUEL BANDEIRA
"Vou-me embora pra Pasárgada..."
PASARGADENSE

Agora sou amigo do Rei.
...Também vim de longe onde faces reviventes,
poderes rivais, traçam leis esquecidas em prontuários fantasmas.
Também fui poeta, senhor de sonhos impossíveis em falso
festival.também saí em busca de supostos privilégios,
nesta terra em que todos se julgam amigo do Rei.
Em projetos complacentes, simulacros poéticos acenam
ao buscador a possibilidade de um outro novo mundo de
maravilhosa liberdade em nova conquista existencial.
No meu espaço mentira,hoje sou o convite ao
poeta insatisfeito com a sua realidade.
Aqui ele também será amigo do REi...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aviso aos escreviventes


Queridos, este comunicado será passado por e-mail também e servirá como tira-dúvidas sobre o texto que trocarão no próximo encontro (06/06).

Como lembram, iniciamos nossa atividade lendo um fragmento de Galáxias, de Haroldo de Campos, investigando possíveis intertextualidades e pensando na questão dos limites entre prosa e poesia. Na ocasião, ensaiamos um parágrafo ( ou mais) sobre esta questão.Outro exercício para 'aquecimento' foi a produção de texto intencionalmente intertextual para que o grupo identificasse o que estaria sendo citado.

Enquanto trabalhávamos noções sobre o tema do atual módulo( 3 encontros), repeti diversas vezes a proposta de trabalho que deveria ser feito para a troca em classe com colegas( quarto encontro): localizar em suas leituras possíveis intertextualidades, apresentar ao grupo, problematizar o tema, talvez, e deixar claro ao leitor seu ponto de vista no tocante à própria descoberta.

Resumindo:
-constatar um fato intertextual;
-esclarecer ou lançar dúvida se se trata, realmente, de intertextualidade (problematizar);
-delimitar o ângulo que será abordado;
-Se for o caso de tentar convencer o leitor acerca de questão polêmica, argumente tentando invalidar antecipadamente provas que sustentariam um ponto de vista diferente do seu.

De modo geral, os textos argumentativos e expositivos não representam diretamente a opinião dos autores e pretendem-se objetivos. Neste nosso exercício, proponho algo diferente: que exponham e argumentem da forma mais subjetiva posssível, trazendo exemplos vividos ou vivenciados, sentidos ou pensados.

Finalmente, lembremos que o texto escrito tem no parágrafo sua unidade de construção.Essa unidade é composta de um ou mais períodos reunidos em torno de ideias estritamente relacionadas.Não há normas rígidas para paragrafação,e a tendencia atual é não usar parágrafos muito longos.

Recordando, cada parágrafo deve relaciona-se a uma ideia importante. Aquele que iniciar por uma frase-núcleo ou tópico frasal( o qual não precisa ser necessariamente no início do paráfrafo) oferece maior legibilidade, visto que tal frase funciona como elemento desencadeador das ideias subsequentes.

O Parágrafo pode ser considerado um microtexto( com introdução, desenvolvimento e conclusão) dentro de um texto maior, e deve ser claro, conciso e coerente.

No tipo de exercício proposto, a ordenação lógica das ideias será fundamental pera argumentação, relações causa-efeito, o encaminhamento do geral para o específico e conclusão.

obs: 1-evite repetição de termos, clichês e pormenores impertinentes;2-ponha em parágrafos diferentes ideias igualmente relevantes, relacionando-as por meio de expressões adequadas à transição;3- o desenvolvimento da mesma ideia-núcleo não deve fragmentar-se em vários parágrafos para que o texto não pareça ter mudado de asunto.


Estas orientações foram baseadas em; BARTOZZO,Valdir Heitor- Pró-universitário- Módulo I-USP. Secretaria do Estado da Educação, SP,2004.

PS: as fotos dos escreviventes foram feitas por Ellen Hardy! Obrigada Ellen...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Quarto encontro


30/05-Finalmente o dia das leituras dos trabalhos. Poucos apresentaram suas reflexões, mas estes poucos foram muito interessantes, inclusive com leituras de suas produções postadas em seus blogs ou apoiadas em power points por eles realizados. Esperamos que, no quinto encontro ( de 8), possamos realmente trocar, em duplas, os textos que estão sendo reescritos ou melhor desenvolvidos.Aos que preferirem, deixamos outra sugestão, bem ampla, de tema para texto: " escrever sobre a escrita é o futuro da escrita"- frase de Haroldo de Campos que consta no primeiro formante de suas Galáxias.

Ao que parece, a grande diferença entre este módulo e os anteriores é que ele apresenta um grau de dificuldade maior. Enquanto vários módulos anteriores trataram de motivar comentário crítico sobre obras ( ensaio), ou foram inspirados em memórias dos escreviventes (relatos, autobiografia))e também em criação de seres imaginários( descrições e narrativas), aqui tentamos traçar um caminho para um texto expositivo e/ou argumentativo. Para complicar, somamos noções de conceitos da Literatura Comparada ainda muito recentes.

Evidentemente não se pretende esgotar o assunto 'intertextualidade', mas trazer um pouco do repertório de cada um, provocar um 'mergulho', um movimento vertical em direção a apropriações culturais, simbólicas e subjetivas, um entrar e sair do labirinto de fios do intertexto. A ideia ,aqui, é dar voz a um leitor-autor, que se reconhece como parte no (dis)curso da história que está sendo lida e narrada ao mesmo tempo.

Terceiro encontro


Em 23 de maio, iniciamos o Escrevivendo explicando aos escreviventes que ainda não têm blog como se criar um. Com a ajuda do Felipe Lucchesi( atual coloborador na tarefa de reunir textos e envio de mensagens ao grupo), criamos , ao vivo, um blog para o Rafael.Com o auxilio do lap top e de projetor, demos as primeiras orientações sobre como publicar postagens: textos, imagens, vídeos e outros.

Dando continuidade ao que foi entregue para leitura em casa, a saber, a transcriação de Bereshit feita por Haroldo de Campos, comentamos mais este exemplo de intertextualidade, chamando a atenção para as 'palavras-valises' criadas pelo poeta, baseadas diretamente no original em hebraico.

Mais do que esboços do trabalho solicitado para este encontro sobre possíveis intertextualidades descobertas individualmente pelos escreviventes, os participantes trouxeram o exercício proposto no segundo encontro (anterior), o de criar textos contendo alguma intertextualidade para que o grupo tentasse descobrir qual teria sido a intenção do autor.Percebe-se que ,para muitos, o amplo
conceito 'intertextualidade' ainda não está claro.

Continuamos a leitura dos textos produzidos e, posteriormente, iniciamos, ainda que oralmente, a comentar sobre os trabalhos que estavam surgindo: as descobertas intertextuais ( e interdisciplinares) dos escreviventes.

Apesar de salientar que o desejado era fugir dos exemplos já prontos da internet, ou dos mais usados em cursinhos,e sim, ao contrário, recorrer a descobertas pessoais, percebe-se grande dificuldade em assumir autoria neste momento. Até mesmo escreviventes que participam do projeto há muitos anos, inclusive criando textos sobre outros textos e com muitas citações, 'travaram' diante da proposta deste módulo. Curioso...

Primeiramente houve estranhamento no conceito de texto na contemporaneidade( v. Cury e Campos). Depois, estranharam a tarefa de trazer descobertas próprias: isto seria arriscado? Finalmente, expor , analisar e esclarecer para o grupo da oficina uma descoberta pessol, argumentanto( se necessário) sobre seu ponto de vista acerca da
intertextualidade/interdisciplinaridade...

Podemos ser subjetivos em discursos expositivos e argumentativos?

Deixamos esta questão no ar.

Nos últimos 10 minutos, Fabiana Turci apresentou seu interessantíssimo trabalho sonoro baseado em obra literária: "são poesias sonoras, que complementam meu trabalho de pesquisa. tomo a liberdade de te enviar uma, que será um dos anexos ao meu TCC do bacharelado em filosofia, sobre o cansaço a partir da obra de Blanchot. o fato é que eu senti necessidade de criar um campo a partir do qual o cansaço pudesse ser experienciado, de uma forma bem empírica e intuitiva. essa poesia, especificamente, foi construida com um poema da Hilda Hist, entrecortado por começos de diálogos do Blanchot. de forma que ela é toda intertextual - o meu trabalho foi só o de edição, o que sei que não é pouco, porque o som, nesse caso, é mais um significante."