terça-feira, 16 de junho de 2009

O AMOR E OS EQUÍVOCOS


"Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone"
VERLAINE

Las horas de la vida
Las cartas del silencio
La sombra y sus desígnios
Diga qué juego
Para seguir perdendo
Neruda

Não me tomem por homofóbico. Acompanhei os delírios de amor de vários amigos gays. Assisti a todo sofrimento. A toda intolerância. E os vi morrer nos primeiros momentos da AIDS. Por isso, quero contestar a definição do querido Fábio sobre amor platônico.

O discurso de Alcebíades â mesa de Platão declarando sua louca paixão por Aristóteles, não é, em si, a definição que Fábio quis dar.
Primeiro, o amor delirante pelas mulheres, no sentido que se tem hoje, só foi inaugurado pelos trovadores, por volta do ano mil e duzentos. Antes disso, e, principalmente no mundo clássico, as mulheres eram menos do que meras sombras; algo para dar prazer aos homens e assegurar a reprodução da espécie.

Na Grécia de Platão, o amor entre dois homens era extremamente sensível. Diferente do que seria, posteriormente, ao galanteador.

Foi o amor entre dois homens que determinou a sina de Édipo e sua família.A saga de Édipo foi inaugurada pela homossexualidade do avô dele que traiu o amante casando-se com a avó de Édipo. O amante se mata e a família dele roga a praga que daria início à trilogia tebana.

Antes do amor às mulheres, amor só a Deus. Por essa razão, (culpa dos trovadores) o amor carnal é parte da Modernidade. Antes, segundo o filósofo alemão WEISCHEDEL, Wilhelm in Platão ou o Amor Filosófico (A Escada dos Fundos da Filosofia. 5 trad: Edson Gil- Ed angra, 2008), a humanidade vivia o amor espiritual (esse, sim, inaugurado por Platão).

Não fosse assim, o que faria de todos os meus amores de fantasia?
Não fosse assim, o que seria de Dante e Beatriz? De Camões e Inês de Castro?

Roberto Dupré, junho 2009.

2 comentários:

  1. E agora Roberto? Será que o fábio responderá?
    beijo e boa polêmica!
    KK

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  2. O Roberto mais uma vez me surpreende com seu arcabouço cultural, mas nao me referi praticamente ao amor heterosexual em meu poema mas sim ao amor entre mulheres muito praticado por Safo e suas companheiras amazonas da ilha de Lesbos,além, é claro do amor platônico, onde todas as referêncais que nosso amigo citou estão mais do que perfeitas
    Se o Roberto fosse professor de Antropologia do Gênero na USP os alunos ficariam boquiabertos e a sala não teria entre 15-20 alunos como vi em uma aula que assisti neste semestre.
    O estudo do gênero é o estudo do diferente, daquilo que não vemos no espelho todos os dias pela manhã e isto pode assustar muitas pessoas.
    Mas não aqueles que são seguros de si e não tem medo de enfrentar desafios.
    A literatura do Roberto é para mim um exemplo que com certeza seguirei pelo resto de minha vida.

    Fábio Zeitim

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